Sabedoria do acaso

Peço licença aos amigos leitores (acho que umas quatro ou três pessoas... ou duas... quem sabe uma só... alguém??? pliiís!!!?? bom, enfim...) pra publicar um post diferente. Criei esse espaço para dar vazão às filosofias existenciais que fluem de mim até meus dedos, e deles para o barulhento teclado do meu pc, tomando formas digitais que podem alcançar o mundo inteiro (ou, com sorte, três ou quatro pessoas... ). De onde fluem, até chegar aos meus dedos, nem faço idéia; o fato é que chegam até eles, e deles acabam parando aqui (e se daqui vão para algum outro lugar, também não faço idéia... alguém?? pliiís!!!?? bom, enfim...) Também aproveito para ocasionalmente publicar alguma produção textual acadêmica que me diverti escrevendo, e que talvez possam divertir outras pessoas ao lerem (com sorte, três ou quatro pessoas...).

Mas hoje, pela primeira vez, usarei esse espaço para um diálogo mais direto (ou nem tanto, já que não consigo parar de escrever esses malditos comentários entre parênteses... aaaahh!!! deve ser por isso... ninguém então... quem sabe? talvez ainda tenha sobrado alguém...), e contar uma história real-não-filosófico-existencial-nem-acadêmico-ficcional (e – pasmem – sem mais parênteses!!! voltem, três ou quatro pessoas!!! pliiiís!!!??).

Bom, enfim...

Lendo agora há pouco o blog da escritora, roteirista e recente amiga Cláudia Tajes, no site do Sarau Elétrico, me deparei com a pergunta, feita por ela aos leitores e comentaristas do seu blog:

"Por que tu é gremista (ou colorado)?".

Achei interessante essa pergunta... E também engraçada, porque há uns dois ou três anos ouvi a mesma pergunta, e simplesmente congelei.

Desde que me entendo por gente sou gremista. E desde que me entendo por gente prefiro o azul ao vermelho, também... coisa normal pra quem é gaúcho e acostumado às nossas dualidades ideologicas, que já são famosas e reconhecidas nacionalmente. Quanto às outras – históricas, políticas e etc –, deixemos de lado, é melhor assim... O fato é que desde que me entendo por gente sou gremista. Mas é fato também que, até dois ou três anos atrás, não fazia a mínima idéia de quando me tornei gremista, certamente porque na época ainda não me entendia por gente.

Uma coisa sempre me chamou a atenção, nessa coisa de ser gremista... tanto meu pai era colorado, quanto meus dois irmãos, um mais velho e o outro mais novo que eu, também torcem pelo Inter. O meu irmão mais velho, por causa do meu pai; o mais novo, provavelmente por influência dos dois. Mas, e eu? Minha mãe se diz gremista, mas sempre detestou futebol... não teria força pra me influenciar a esse ponto, considerando que certamente meu pai teria influenciado mais, uma vez que assistia a todos os jogos, e acompanhava campeonatos, etc. Minha irmã, a mais velha das duas, e quarta na ordem de nascimento, também é gremista, mas ela veio depois, e seguiu a opinião – discreta – da minha mãe, e a minha – não tão discreta, mas também não muito fanática, já que sendo um gremista contra 3 colorados em casa, se eu fosse fanático a ponto de me irritar com provocações não estaria aqui contando essa história. A caçula da família, como foi encarada com fator de desempate, já que éramos 3 contra 3, passou a infância inteira virando casaca, torcia pra quem estava ganhando mais, até que mais tarde, criou juízo e acabou virando gremista definitivamente. Mas, enfim, ela também veio depois, e também não me ajudava em nada a encontrar uma resposta.

Restavam duas hipóteses: ou eu era gremista simplesmente porque preferi a cor azul à cor vermelha, e então não tinha mesmo nenhuma afinidade com o futebol em si, mas sim com a cor principal do time – o que até seria uma explicação plausível, uma vez que eu com uma bola nos pés sempre fui um desastre, e só acompanho jogos de futebol pela televisão ou então pelo caderno de esportes do jornal – ou então, por influência da única pessoa que me parecia ter força suficiente para fazer de mim um gremista convicto e pra vida toda: meu avô materno. Mesmo sendo ele gremista fanático, ainda assim, o fato dele morar em Erechim e só nos encontrarmos nas férias, uma vez por ano, explicava o fato de eu não ter a mesma afinidade com o esporte, ou fanatismo pelo clube, que ele tem. Obviamente, e com muito orgulho, aceitei a segunda hipótese.

Passei então minha vida toda, desde que me conheço por gente e consegui resolver esse mistério existencial, acreditando e contando pra quem quisesse saber o porquê de eu ser gremista, e não colorado como meu pai e irmãos, que o era por causa de meu avô. E vivia feliz minha vida de tricolor, até dois ou três anos atrás. Até ouvir a fatídica pergunta, pela primeira vez:

- Tu sabe porquê teu irmão mais velho é colorado, e tu é gremista?

E congelei. Simplesmente congelei. Não por ter ouvido a pergunta, que muitas outras vezes havia respondido, sem nem piscar. Mas por causa da pessoa que fez a pergunta: meu avô.

O choque foi tão grande, que nem lembro mais se ele tinha vindo a Porto Alegre, numa das rotineiras visitas anuais à família que mora na capital, ou se eu é que tinha ido pra lá, em uma das nossas rotineiras – mas infelizmente hoje não tão frequentes – viagens de férias. Também não lembro o que motivou a pergunta, se estávamos conversando sobre algum jogo recente, ou se ele simplesmente aproveitou um momento de distração minha e pescou aquela incerteza da infância, perdida e esquecida no fundo da minha alma. O fato é que, na surpresa daquele momento, a pergunta soou tão completamente desconexa de qualquer conversa, que senti que o único propósito foi proporcionar a maior revelação sobre a minha existência na Terra, ou então simplesmente varrê-la para os confins do Universo.

Simplesmente congelei. E não pela pergunta em si. Mais ainda: não totalmente por ter sido meu avô quem perguntou. Congelei pela quase risada que vi, claramente, no fundo de seus olhos ao me perguntar. Certo de que não podia me atrever a responder errado, assumi que não. Mesmo com medo do que ouviria a seguir, continuei firme, aguardando sua próximas palavras. Tá bom, tá bom... eu simplesmente congelei mesmo...

- Tu sabe porquê teu irmão mais velho é colorado, e tu é gremista?

- Hã... não. – nem faço idéia do que respondi, se é que consegui falar... mas vamos assumir que eu tenha respondido que não.

- Vocês eram pequenos, na época era só vocês dois, os mais novos ainda não tinham nascido. Teu irmão mais velho tinha 4 anos, e tu tinha 3. Estavam em Erechim, de férias, como de costume. E eu saí pra passear com vocês dois, fomos ao centro da cidade. Queria dar presentes de aniversário pra vocês, então resolvi comprar camisetas. Como teu irmão era o mais velho, ia comprar uma camisa do Grêmio pra ele; pra não comprar duas camisetas iguais, e também porque o teu pai era colorado, resolvi te dar uma camiseta do Inter. Só que, chegando na loja, não tinha camiseta infantil do grêmio no tamanho do teu irmão, só tinha menor. Em compensação, tinha uma do Inter que servia perfeitamente nele. Então acabei fazendo o contrário: teu irmão ficou com a camiseta do colorado e tu com a do tricolor. E a partir daquele dia, teu irmão virou colorado, e tu virou gremista. – concluiu ele, já não segurando mais o riso.

E nem eu. Ri muito, na hora e ainda hoje. Não só pela inusitada verdade, mas também pela ironia de ter me tornado gremista através de um ato de consumo, e ter descoberto isso no decorrer do curso de Publicidade e Propaganda. Independente de como aconteceu, ainda posso dizer que sou gremista graças a meu avô, mas também por pura sabedoria do acaso. E com muito orgulho!

Um comentário:

Um devaneio disse...

Por um acaso..encontrei seu blog..
e por pura identificação com os tais parenteses..e por diversão dos 3 ou 4 leitores..(conheço pessoas adeptas dessa forma de escrever)...lendo e lendo..sem me ater a metafora de ser gremistas...(pq sou corinthiana)..e a metafora não está ai...Gostei mesmo de sua escrita!( penso que ficou obscuro meu comentário: é acertou em cheio..rs)
muita luz!