Declaração in-pessoal...

Era uma vez alguém
que ouviu o que eu disse a ele.
Resolveu contar a ninguém
pois daquilo que eu falava
por mais que alguém lesse e relesse
certamente ninguém entenderia.

Mas por mais que ninguém pudesse entender
tudo aquilo que eu dizia
somente alguém podia reconhecer
não importando se ninguém mais soubesse
o quanto eu era especial
como ninguém jamais seria.

E ainda que eu não entendesse
como alguém de alguma forma saberia
mesmo que tu, ele, ela, nós, vós
ninguém ou todos eles discordassem
a certeza ainda permaneceria.

Outros tempos, outros espaços
distâncias e silêncios tornariam.
Nos tantos caminhos eu pensava
que amor ou admiração não merecia.

De tudo alguém sabe de nada.
De nada alguém vê o que seria.
E ainda se eu lhe contasse
certeza alguém não perderia.

E se alguém eu percebesse
o que no silêncio dizia
talvez então compreendesse
que por mais longe e ausente eu vivesse
presente e perto alguém sempre estaria.

ŧ



...e nada mais, pessoal.

Esse foi o último post do blog.

O ano que passou foi algo diferente, em todos os sentidos e de formas totalmente inesperadas. Inesperado como tem sido a minha vida ao longo desses não-vem-ao-caso-quantos anos. Mas, enfim, foi um ano que me trouxe muito, ao mesmo tempo em que me deu absolutamente nada. Um ano que valeu uma década, e passou como um segundo apenas. Um segundo parado no espaço, que sem me mover mais do que a distância entre meus braços me fez tocar o mundo inteiro, sem sentir absolutamente nada, de fato. Um ano em que estive cercado por tanta gente, e não pude deixar de me sentir mais só do que nunca.

Penso e vejo tudo o que acontece ao meu redor, e cada vez mais percebo o quanto as coisas realmente importantes pra mim são muitas vezes tão diferentes daquilo que tanto importa para outros, em maioria. E, talvez, sim, seja eu o louco, por acreditar que possa estar de alguma forma certo naquilo em que acredito. Mas ainda prefiro as minhas certezas incertas a certas incertezas que vejo o tempo inteiro, todos os dias.

Encerro por aqui essa Jornada... E se algum desses passos puder ser – algum dia, de alguma forma – útil a alguém, sintam-se à vontade para compartilhá-los com seus companheiros de viagem. Se não, tudo bem. A lembrança do que passou serve apenas como guia para novos caminhos que - queiramos ou não - virão e nos farão mover, independente da nossa vontade, independente dos nossos planos ou (in)certezas.

Não desejo um feliz natal, ou mesmo um feliz próximo ano, porque mesmo a noção do que é felicidade é relativa ao que esperamos que aconteça... e o que quer que aconteça nunca será exatamente aquilo que esperamos, porque o que quer que possamos esperar estará sempre aquém daquilo que podemos realmente fazer acontecer, no momento em que deixamos de esperar.

Sendo assim, desejo apenas que cada um encontre aquilo que veio buscar, não importa de onde esteja vindo, nem se faz alguma idéia de para onde irá, ou mesmo do que acredita procurar. E, acima de tudo, que entendam que o final de cada jornada não traz mais do que cada passo já lhes trouxe... traz apenas mais um passo, o passo final – e, ao mesmo tempo, inicial.

Quanto a mim, sigo andarilho
rumo ao familiar desconhecido

não peço mais do que consigo merecer
não recebo mais do que possam me dar

não vou aonde não sou convidado
não fico onde não me sinto bem-vindo

não tenho medo de voar por não ter asas
e vôo mais alto do que podem as palavras

não digo nada que não possa ser entendido
mas nada digo, que não tenha mais
do que somente um sentido.

Fabricio “Åndarilho §amurai” Sortica

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Olhos nos olhos

Se queres de mim a morte,
diga, mas não para si mesmo.
Olhe nos meus olhos, e diga,
apenas uma vez.

Te quero, mas não a ti;
quero a parte de mim
que nunca esteve em ti
e que tomes a parte de ti
que não mais se encontra em mim.


Diga, mas não para si mesmo,
olhe nos meus olhos e diga,
mas esteja pronto, e ciente.

Mais forte não é quem
tem coragem para perguntar;
mas, sim, aquele que não teme
encarar sincera resposta, de frente.

E prontamente receberás,
mais do olhar que das palavras,
resposta justa a sentenciar,

Nunca sequer cogitei o abandono
nem mesmo pretendi à distância ficar;
Mas o exílio a mim impuseste
e só restou, mais uma vez, respeitar.

Se queres, de ti, para ti,
aquilo que a mim nunca pertenceu,
mas que por lealdade,
tua, a ti mesmo,
foi confidenciado,
nada tenho a protestar;
me sinto não menos que honrado.

Amanhã, ao acordares,
nada haverá, nem sentirás falta.
Memórias, vestígios, suspeitas.
Nem um sonho, ou sentimento,
nem mesmo rancor ou revolta.

Se um dia duvidaste,
de mim enquanto existência,
terás, agora, provado
mesmo sem teres consciência

nada tens até que reconheças,
que nada vem sem que decidas na vida;
nada foi, para que te arrependas,
e não existe escolha perdida.

Olhe nos meus olhos, e diga,
mas não para si mesmo,
e esteja pronto e ciente.

E uma vez que digas, ciente,
e estejas pronto a olhar, e encarar de frente,
perceberás que bastava a coragem
e a força para ouvir a sentença, até que finda.


E o que foi ausente nunca mais será
e o que foi presente, não permanecerá.
Nem em sonhos,
sequer em lenda.

Sabedoria da Inexistência

Acordo. Nem sei onde estou, muito menos o que está acontecendo. Abro a janela, mas não vejo nada. Aliás, não vejo nada há muito tempo. E, por sinal, nem sei mais quanto tempo é muito tempo.

Talvez nem seja. Ou talvez seja por isso.

Saio da cama, sem saber como abri a janela se nem tinha ainda me levantado. Me dou conta que isso não faz diferença. Janela sem vista é assim mesmo, não faz diferença se está fechada ou aberta. Não vejo mesmo nada.

Aliás, não vejo nada há muito tempo.

Penso em me dirigir à porta, mas... penso? Sim, acho que penso. Ou melhor, penso que acho, que penso. Dizem que o pensamento é mais rápido que a consciência. No momento em que pensamos em pensar em algo, é tarde demais... já pensamos nisso. Um milésimo de segundo pode ser o suficiente pra pensar em tudo.

Talvez nem seja. Ou talvez seja por isso.

Enfim, no momento em que penso - ou (penso que) acho que penso – em me dirigir à porta, já não estou mais lá, já não há mais porta. Mas, também, que diferença faz passar por uma porta quando não se sabe onde está, muito menos pra onde se está indo? Não vejo diferença alguma.

Aliás, não vejo nada há muito tempo.

Vejo então que devo pensar exatamente o oposto. De quê eu não sei, já que não vejo e muito menos penso – ou melhor, acho que não penso – nada; Se não vejo e não penso, então não importa o lugar, pois não estou. Se não estou... penso logo: existo?

Olho ao meu redor. Mesmo sem ver nada, ainda consigo olhar ao meu redor. Então vejo (ou, melhor, olho) pessoas, que passam. Por onde, não sei; nem sei onde estou... Aliás, nem sei se estou. O fato é que elas também não me vêem. Até me olham, mas certamente não vêem.

Aliás, não vêem nada há muito tempo.

Me dou conta então de uma coisa: como posso saber o que vejo, ou não vejo, e se as pessoas vêem, ou se não vêem, há muito tempo, se não sei efetivamente há quanto tempo, é, muito? Talvez seja por isso que não vejo, ou não sou visto.

Ou talvez nem seja. Talvez, seja por isso.

Acordo. Nem sei onde estou... muito menos o que está acontecendo. Penso logo: existo?

Me dou conta que isso não faz diferença.

Sabedoria do acaso

Peço licença aos amigos leitores (acho que umas quatro ou três pessoas... ou duas... quem sabe uma só... alguém??? pliiís!!!?? bom, enfim...) pra publicar um post diferente. Criei esse espaço para dar vazão às filosofias existenciais que fluem de mim até meus dedos, e deles para o barulhento teclado do meu pc, tomando formas digitais que podem alcançar o mundo inteiro (ou, com sorte, três ou quatro pessoas... ). De onde fluem, até chegar aos meus dedos, nem faço idéia; o fato é que chegam até eles, e deles acabam parando aqui (e se daqui vão para algum outro lugar, também não faço idéia... alguém?? pliiís!!!?? bom, enfim...) Também aproveito para ocasionalmente publicar alguma produção textual acadêmica que me diverti escrevendo, e que talvez possam divertir outras pessoas ao lerem (com sorte, três ou quatro pessoas...).

Mas hoje, pela primeira vez, usarei esse espaço para um diálogo mais direto (ou nem tanto, já que não consigo parar de escrever esses malditos comentários entre parênteses... aaaahh!!! deve ser por isso... ninguém então... quem sabe? talvez ainda tenha sobrado alguém...), e contar uma história real-não-filosófico-existencial-nem-acadêmico-ficcional (e – pasmem – sem mais parênteses!!! voltem, três ou quatro pessoas!!! pliiiís!!!??).

Bom, enfim...

Lendo agora há pouco o blog da escritora, roteirista e recente amiga Cláudia Tajes, no site do Sarau Elétrico, me deparei com a pergunta, feita por ela aos leitores e comentaristas do seu blog:

"Por que tu é gremista (ou colorado)?".

Achei interessante essa pergunta... E também engraçada, porque há uns dois ou três anos ouvi a mesma pergunta, e simplesmente congelei.

Desde que me entendo por gente sou gremista. E desde que me entendo por gente prefiro o azul ao vermelho, também... coisa normal pra quem é gaúcho e acostumado às nossas dualidades ideologicas, que já são famosas e reconhecidas nacionalmente. Quanto às outras – históricas, políticas e etc –, deixemos de lado, é melhor assim... O fato é que desde que me entendo por gente sou gremista. Mas é fato também que, até dois ou três anos atrás, não fazia a mínima idéia de quando me tornei gremista, certamente porque na época ainda não me entendia por gente.

Uma coisa sempre me chamou a atenção, nessa coisa de ser gremista... tanto meu pai era colorado, quanto meus dois irmãos, um mais velho e o outro mais novo que eu, também torcem pelo Inter. O meu irmão mais velho, por causa do meu pai; o mais novo, provavelmente por influência dos dois. Mas, e eu? Minha mãe se diz gremista, mas sempre detestou futebol... não teria força pra me influenciar a esse ponto, considerando que certamente meu pai teria influenciado mais, uma vez que assistia a todos os jogos, e acompanhava campeonatos, etc. Minha irmã, a mais velha das duas, e quarta na ordem de nascimento, também é gremista, mas ela veio depois, e seguiu a opinião – discreta – da minha mãe, e a minha – não tão discreta, mas também não muito fanática, já que sendo um gremista contra 3 colorados em casa, se eu fosse fanático a ponto de me irritar com provocações não estaria aqui contando essa história. A caçula da família, como foi encarada com fator de desempate, já que éramos 3 contra 3, passou a infância inteira virando casaca, torcia pra quem estava ganhando mais, até que mais tarde, criou juízo e acabou virando gremista definitivamente. Mas, enfim, ela também veio depois, e também não me ajudava em nada a encontrar uma resposta.

Restavam duas hipóteses: ou eu era gremista simplesmente porque preferi a cor azul à cor vermelha, e então não tinha mesmo nenhuma afinidade com o futebol em si, mas sim com a cor principal do time – o que até seria uma explicação plausível, uma vez que eu com uma bola nos pés sempre fui um desastre, e só acompanho jogos de futebol pela televisão ou então pelo caderno de esportes do jornal – ou então, por influência da única pessoa que me parecia ter força suficiente para fazer de mim um gremista convicto e pra vida toda: meu avô materno. Mesmo sendo ele gremista fanático, ainda assim, o fato dele morar em Erechim e só nos encontrarmos nas férias, uma vez por ano, explicava o fato de eu não ter a mesma afinidade com o esporte, ou fanatismo pelo clube, que ele tem. Obviamente, e com muito orgulho, aceitei a segunda hipótese.

Passei então minha vida toda, desde que me conheço por gente e consegui resolver esse mistério existencial, acreditando e contando pra quem quisesse saber o porquê de eu ser gremista, e não colorado como meu pai e irmãos, que o era por causa de meu avô. E vivia feliz minha vida de tricolor, até dois ou três anos atrás. Até ouvir a fatídica pergunta, pela primeira vez:

- Tu sabe porquê teu irmão mais velho é colorado, e tu é gremista?

E congelei. Simplesmente congelei. Não por ter ouvido a pergunta, que muitas outras vezes havia respondido, sem nem piscar. Mas por causa da pessoa que fez a pergunta: meu avô.

O choque foi tão grande, que nem lembro mais se ele tinha vindo a Porto Alegre, numa das rotineiras visitas anuais à família que mora na capital, ou se eu é que tinha ido pra lá, em uma das nossas rotineiras – mas infelizmente hoje não tão frequentes – viagens de férias. Também não lembro o que motivou a pergunta, se estávamos conversando sobre algum jogo recente, ou se ele simplesmente aproveitou um momento de distração minha e pescou aquela incerteza da infância, perdida e esquecida no fundo da minha alma. O fato é que, na surpresa daquele momento, a pergunta soou tão completamente desconexa de qualquer conversa, que senti que o único propósito foi proporcionar a maior revelação sobre a minha existência na Terra, ou então simplesmente varrê-la para os confins do Universo.

Simplesmente congelei. E não pela pergunta em si. Mais ainda: não totalmente por ter sido meu avô quem perguntou. Congelei pela quase risada que vi, claramente, no fundo de seus olhos ao me perguntar. Certo de que não podia me atrever a responder errado, assumi que não. Mesmo com medo do que ouviria a seguir, continuei firme, aguardando sua próximas palavras. Tá bom, tá bom... eu simplesmente congelei mesmo...

- Tu sabe porquê teu irmão mais velho é colorado, e tu é gremista?

- Hã... não. – nem faço idéia do que respondi, se é que consegui falar... mas vamos assumir que eu tenha respondido que não.

- Vocês eram pequenos, na época era só vocês dois, os mais novos ainda não tinham nascido. Teu irmão mais velho tinha 4 anos, e tu tinha 3. Estavam em Erechim, de férias, como de costume. E eu saí pra passear com vocês dois, fomos ao centro da cidade. Queria dar presentes de aniversário pra vocês, então resolvi comprar camisetas. Como teu irmão era o mais velho, ia comprar uma camisa do Grêmio pra ele; pra não comprar duas camisetas iguais, e também porque o teu pai era colorado, resolvi te dar uma camiseta do Inter. Só que, chegando na loja, não tinha camiseta infantil do grêmio no tamanho do teu irmão, só tinha menor. Em compensação, tinha uma do Inter que servia perfeitamente nele. Então acabei fazendo o contrário: teu irmão ficou com a camiseta do colorado e tu com a do tricolor. E a partir daquele dia, teu irmão virou colorado, e tu virou gremista. – concluiu ele, já não segurando mais o riso.

E nem eu. Ri muito, na hora e ainda hoje. Não só pela inusitada verdade, mas também pela ironia de ter me tornado gremista através de um ato de consumo, e ter descoberto isso no decorrer do curso de Publicidade e Propaganda. Independente de como aconteceu, ainda posso dizer que sou gremista graças a meu avô, mas também por pura sabedoria do acaso. E com muito orgulho!

Sabedoria da Terra¹

A Planície em La Crau. Van Gogh, 1888.

Em meio aos campos e plantações da região da planície de La Crau, em uma choupana feita de palha e barro, vive Dona Justina, uma senhora tranquila, conhecida na região por ser uma grande benzedeira.

- Bom dia, Dona Justina! - diz o peão, na carroça puxada por bois.

- E há de ser, meu filho... um lindo dia de sol. - responde ela, sorrindo.

Dona Justina passa os dias a cuidar de suas ervas. E a atender aos trabalhadores e suas famílias, que a procuram para curar seus males, ou então para pedir conselhos sobre o tempo e o momento certo para o plantio e a colheita.

- Bom dia, Dona Justina! Será que o plantio do milho hoje dá? - pergunta o coronel, a cavalo.

- Melhor pra semana que vem, meu filho... - responde ela, sorrindo.

Um dia, um forasteiro que por ali passava há algumas semanas, curioso com a movimentação e as consultas diárias que vez ou outra testemunhava, aproximou-se do cercado.

- Bom dia, Dona Justina! Posso saber como a senhora conhece a respeito do tempo, das ervas, do plantio e tudo o mais que lhe perguntam?

- Muito simples, meu filho... - respondeu a velha senhora, sempre sorridente. - Enquanto vocês passam por essa terra todos os dias, eu fico aqui e ouço o que ela tem a dizer.

_________________________________________
¹ Texto escrito como atividade para a disciplina de Redação Publicitária IV, do curso de Com. Social - Publicidade e Propaganda da Fabico/UFRGS, ministrada pela profª Rosane Palacci dos Santos. Proposta do trabalho: a partir de uma imagem, criar um texto que desenvolva uma cena, com personagens e enredo fechado (início e fim).

Já era...

Quanto mais se quer
menos se tem
melhor nem querer...

Quanto mais se sobe
menos se equilibra
melhor nem subir...

Quanto mais se vive
menos tempo se tem
melhor nem viver...

Quanto mais se lê
menos se acredita
melhor nem ler...

... tarde demais.

Part-ida

Ele partiu. Não como quem sai à procura de um lugar melhor, de um destino certo, de um futuro, enfim. Simplesmente partiu. Por quê? Não sei se ele realmente sabia. Não quando partiu.

Partiu porque não havia mais lugar pra ele. Porque, se ficasse e lutasse, não descansaria nem por um segundo, durante o que seria sentido como uma eternidade. E certamente acabaria partindo-se assim mesmo. Preferiu partir de uma vez, a partir aos pedaços.

Partiu e vagou, no limbo e sem direção. Sem saber o quanto haveria de vagar, não o preocupava aonde chegar. Vagou e cansou. Cansou e parou. Parou e encontrou um lugar onde podia ficar. Mesmo sem saber por quê ficar. Ficou, descansou. E até esqueceu. Sim, por um tempo ele – ao menos acreditou que – esqueceu. Mas, de fato, havia partido. E, uma vez tendo partido, não havia como esquecer. Não totalmente.

Totalmente descansado, acordou. Acordou e percebeu que por mais que acreditasse estar longe, em alguns momentos, por segundos que fosse, ainda estava lá. Onde tudo começou. E então, percebeu o quanto havia realmente partido. Partido a ponto de nunca partir. Partido a ponto de não encontrar mais lugar, de nem ao menos saber se havia como não mais partir. Mas sentiu que havia de – poderia... será? – tentar.

Antes de pensar em partir, já havia partido; quando pensou em voltar, não sabia mais se havia voltado. Só sabia que já não havia mais partido, não havia mais escolha. Mas não sabia se ganhara ou fora derrotado. Ou se um dia ganharia. Ou mesmo se havia como – ou mesmo o quê – ganhar. Sentia apenas que havia voltado, mesmo sem saber de onde, nem por quanto tempo, e muito menos porquê.

Apenas sabia que, afinal, nunca havia partido.

Conversando com...

- Seja bem-vindo.

- Olá... nos encontramos novamente.

- Sim... é um modo de ver as coisas...

- É, tem razão... de outro modo, seguimos sempre o mesmo caminho. Portanto, não há reencontro.

- Exatamente. Pelo visto, você aprendeu muito desde nossa última conversa.

- Sim... é um modo de ver as coisas...

- Lógico, lógico... E então... por que voltaste?

- Não sei ao certo... na verdade, ando muito confuso – o que, convenhamos, não é novidade nenhuma...

- De fato. A vida é mesmo confusa, já que nós a fazemos assim.

- Então... num momento parece que tudo segue um caminho certo, tudo se encaixa, planos estão a ponto de serem feitos... e de repente, tudo vira do avesso, nada faz sentido, nada tem lógica; nada de planos, porque todos os que foram pensados já não têm mais razão de ser...

- Isso não é verdade... nem todos os teus planos ruíram, e você sabe disso. só aqueles que realmente não tinham razão de ser.

- É, isso agora está ficando claro... mas, mesmo assim, os planos que ainda fazem sentido não parecem possíveis.

- Hum... se fazem sentido, então são possíveis.

- Será? porque não consigo entender como eles acontecerão. Quer dizer, eu sei que passo dar pra que eles venham a acontecer, mas nem todo passo é possível, só com o meu caminhar.

- Entendo o teu ponto de vista. O problema é que nem tudo o que faz sentido pra você faz sentido para outras pessoas. Ao menos não na mesma medida. Lembra do que conversamos em nossos encontros anteriores, não?

- É, lembro, claro. Mas é um caminho difícil esse... muito difícil, e às vezes muito cansativo também.

- “E quem disse que seria fácil?” Você mesmo diz isso o tempo todo, não?

- Sim, digo sempre, mentalmente ou em voz alta, pra não esquecer que por mais que tudo pareça estar tranquilo, sempre haverão obstáculos, e preciso estar preparado para quando surgirem.

- “Na paz, prepara-te para a guerra¹”...

- Ok, ok!! Eu conheço minhas citações – e suas fontes – muito bem, e você sabe disso... Não estou reclamando, você sabe... só desabafando um pouco, já que não tenho com quem mais fazer isso.

- Eu sei... é complicado viver assim. Mas você não precisa, realmente. Mas precisa perder o medo de se abrir, de se expôr.

- Isso é complicado demais. Não o me abrir, ou me expôr, mas o que isso acarreta. Mesmo que alguém consiga sentir tanto quanto eu, não consegue acreditar naquilo que sente, e portanto também não consegue entender como eu me sinto.

- As pessoas costumam confundir aquilo que é sentido com aquilo que faz sentido... nem tudo que é sentido faz, realmente, sentido. Aliás, se fizer sentido, talvez não seja realmente sentido. Porque o sentido quem dá é a razão. Mas a razão, por si própria, não sente. E o sentimento, sendo algo exterior à razão, precisa ser por ela entendido, para poder ter algum sentido.

- É... consigo perceber isso com mais clareza hoje em dia, mas ainda assim, é difícil manter o foco no que se sente, e não analisar tudo, ou não tentar interferir... é realmente complicado.

- Se não pudesses dar conta disso, não estarias aqui, conversando comigo.

- E será que posso mesmo? Porque hoje em dia já não sei mais...

- Duvidar também faz parte do processo... querer sumir, mandar tudo pro alto, ou simplesmente parar de sentir... é importante se auto-questionar, se auto-avaliar constantemente, porque isso te impede de cometer o pior dos erros...

- ... acreditar que não há mais nada a aprender, a melhorar, a crescer, a corrigir.

- Perfeitamente. E te ajuda a saber quando a missão está completa, e é hora de partir.

- Partir... não me lembra disso, por favor... Já foram muitas partidas sem despedida, e retornos sem boas-vindas... e todas sem nem sair do lugar. E agora mais uma possibilidade de partida, e a jornada mal começou.

- Se é isso que te preocupa, acho que tens a resposta... como sempre.

- É... ter a resposta é minha sina... saber entendê-la – ou senti-la, dependendo do caso – é minha maldição. Ou bendição, sei lá...

- Nem uma coisa nem outra. As pessoas costumam atribuir a suas habilidades uma conotação boa ou ruim, e também creditar a fatores externos tudo aquilo que vêm delas, ou que vêm a elas. Isso porque preferem não aceitar o fato de que tudo aquilo que há pode ser equilibrado, e que os fatores que giram em torno de suas habilidades oscilam dependendo de como são afetados por elas.

- Neutralidade é algo visto como mito.

- É um conceito mítico, realmente. Equilíbrio e neutralidade não são a mesma coisa. Vamos deixar a neutralidade para outra conversa, porque o que nos interessa aqui é o equilíbrio. Equilibrar as coisas não significa ser bom pra afastar o que é ruim, ou vice-versa. Não é combater um lado através do outro.

- Sim, isso eu entendo. Aceitar que existe dualidade, e que o equilíbrio só é possível através da complementação de ambas as forças, é o caminho mais difícil.

- E se pra você é difícil, imagine para aqueles que estão começando a se dar conta disso.

- É, eu sei. O que eu posso fazer? O que eu posso dizer? Como posso ajudar, se não sei nem se consigo ajudar a mim mesmo...

- Sei que isso não é um pergunta pra mim. Você sabe as respostas, mesmo não a sabendo. A confiança é cega...

- ...O caminho também. Você sempre diz isso. Poder ver o caminho só depois de percorrido também é desgastante. Viver todos os tempos, todos os momentos, todas as vidas, tudo ao mesmo tempo, e não descuidar do aqui e agora, não desviar do rumo... mas nada desgasta mais do que me sentir sozinho.

- Mas sabes que não estás sozinho.

- Sim, eu sei. Mas ainda assim, me sinto sozinho. Mesmo quando não estou.

- Entendo. E essa pessoa, de quem não queres perguntar, também acredita que está sozinha, não?

- Não sei.

- Tudo tem sua razão de ser. Aquilo que pressentes também. Mesmo que, o que pressentes, não seja visto ou entendido. Mesmo que seja tudo um engano. Mesmo enganos têm sua razão de ser.

- Sei, te referes ao que passou. Sim, eu consigo ver a razão de tudo ter acontecido como aconteceu. Mas isso não diminui a minha apreensão com relação ao que pode acontecer – ou deixar de acontecer - no futuro.

- Ótimo. Apreensão é o que te deixa alerta, e que te permite não deixar passar as lições que precisas aprender, tanto com relação ao teu próprio caminho quanto ao caminho daqueles a quem proteges.

- Não acho tão ótimo me sentir assim... mas enfim... creio que, por hora, essa conversa fica por aqui.

- Sim, perfeitamente. Tudo a seu tempo...

- Obrigado por me ouvir.

- Quando quiser, sempre que precisar...


¹ TZU, Sun. A Arte da Guerra. Adapt. James Clavell. Trad. José Sanz. 24 ed. Rio de Janeiro: Record, 2001.

Efêmero

Fim de mais um longo dia. Deito na cama, já tarde da noite, e fecho os olhos.

Penso no dia que passou, em todas as correrias, stress, confusões, coisas a resolver...

E jogo tudo pra trás.

Penso no dia que vai começar, seus compromissos, agendas e desafios...

E jogo tudo adiante.

Penso no que restou. O vazio, o silêncio, o frio... de repente, no meio do nada, dos recantos mais longínquos escondidos no fundo de todas as confusões passadas e futuras, ela surge.

Aos poucos a imagem vai se formando, fixando, e se tornando quase palpável na escuridão diante de mim. Seu calor em segundos me envolve, começa a me aquecer. E meu coração acelera.

Acelera porque estou prestes a reconhecê-la; já sei na verdade quem é, mas estou enfim a ponto de vê-la, nitidamente diante de meus olhos, de finalmente reencontrá-la.

E jogo tudo fora.

Rapidamente a imagem desaparece, o frio toma conta, engasgo e começo a tossir, recuperando aos poucos o fôlego que me fora tomado pelo momento. De volta ao frio, ao silêncio e ao vazio que precedem mais um longo dia.

E jogo tudo de novo.

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Sinto muito... nada sinto

Pessoas que sentem demais correm o risco de sentirem de menos... Um turbilhão de emoções pode causar um efeito “olho de furacão”, onde absolutamente nada acontece, mesmo quando tudo gira e vira do avesso ao redor. A indiferença que isso causa faz com que se veja tudo o que acontece, e que outrora fazia algum sentido, parecer fútil e incoerente.

O engraçado é que o vácuo sentimental não é pleno, não há ausência de sentimentos... só uma incompreensão do que esses sentimentos significam; ainda que signifiquem algo para a pessoa, não têm (ou não parecem ter) valor para as pessoas à volta, e então perdem o sentido. E sentir sem sentido ainda é sentir?

O sentido que o coração tem, enquanto músculo que mantém o corpo em funcionamento, faz sentido, e pode ser sentido; quando ele não funciona direito, perde-se o sentido, e o corpo cai. Já o sentido daquele coração que bate fora do corpo, mas faz o corpo pulsar por algo ou alguém, não faz tanto sentido, e nem sempre pode ser sentido... e quando sentido, nem sempre pode ser entendido, e portanto, não se sabe se ele funciona direito ou não... Sem saber se ele está ou não funcionando, não se perde totalmente o sentido, e então o corpo não cai.

Mas alguma coisa cai, seja físico ou não, seja o próprio coração, que não se sabe nem por onde anda (o segundo, que não faz sentido; o outro continua dentro do peito), e quando anda parece que está em um lugar quando na verdade está em outro, ou está em vários lugares, de várias formas. Ou então nem está, se é que algum dia esteve.

O fato é que, independente de existir de fato, de estar em algum lugar ou não, de fazer ou ser sentido, mais cedo ou mais tarde, geralmente quando menos se espera, ele bate.

E então, o corpo cai.

ŧ

Ser complexo

Ser... á?

... que vale a pena dizer a verdade?
... que cabe a sinceridade?
... que é melhor dizer?
... que é melhor saber?

Pessoas juram que sim...
... depois fingem que não.

Pessoas cobram que sim...
... mas nem sempre são.

Pessoas acreditam que dói menos...
... e quando dói, não sabem se tinham razão.

ŧ


Ser... ei?

Às vezes me canso de ser.
A vida nos obriga sempre a ser alguma coisa, ou alguém...
mas quantas vezes nos perguntamos: eu sou realmente quem eu sou?

Penso ser amigo, e me descubro um conhecido, um colega, um alguém.
Penso ser companheiro, e me descubro uma lembrança, um passado.
Penso ser claro, e me descubro mal-entendido.
Penso ser vivo, e me descubro inexistente.

Penso, logo existo... mas consigo existir, como eu penso?

Não sei dizer que sinto o que eu não sinto.
Não sei fingir que não sinto o que sinto.
Não sei perguntar “como vai?” por educação.
Não sei dizer que estou bem só pra ser polido.

Não sei pensar... a não ser como eu existo.

ŧ


Ser... ão?

Sou o tipo de pessoa que está sempre procurando os amigos pra saber onde estão, quando estão, como estão, por que estão, e etc...

e também o tipo de pessoa por quem (quase, sejamos justos...) ninguém procura pra saber onde está, quando está, como está, por que está, e etc.

Às vezes me pergunto... e se eu simplesmente desaparecesse, sem mais nem menos, nunca mais procurasse notícias de ninguém, será que alguém perceberia em menos de... sei lá, três ou quatro semanas? dois ou três meses? alguns anos?

E, se (ou quando) percebessem, quanto tempo levariam pra procurar saber onde, quando, como porquê?

Procurariam, ou não?

Saberiam onde procurar, ou não?

Leriam esse texto, ou não?

Talvez...

(quase, sejamos justos...)

...ninguém.

ŧ

Ser invisível

O melhor de ser invisível, é poder ver além... ser in-visível.

ver além do que as pessoas são, no mundo aparentemente visível,

ver além do que as outras pessoas são capazes, na invisibilidade da aparência.

Ser in-visível não significa necessariamente não ser visto por outros; melhor definição seria ver muito mais do que os outros, ver o que outros certamente não conseguem ver.

Não porque não possuam essa capacidade, simplesmente porque não têm o menor interesse em desenvolvê-la.

Sun Tzu¹ diz, em seus ensinamentos sobre a guerra, que conhecendo a nós mesmos e a nosso inimigo, não devemos temer nenhuma batalha; digo então que se formos suficientemente in-visíveis, não existe então distância entre querer e poder, diferença entre sempre ou nunca...

existe o que de fato existe, e a partir daí tudo é possível.

Åndariho §amurai

¹ TZU, Sun. A Arte da Guerra. Adapt. James Clavell. Trad. José Sanz. 24 ed. Rio de Janeiro: Record, 2001.

Ser humano

Admiro

a sinceridade do olhar
a pureza da alma
o ímpeto por trás da timidez
a timidez que esconde a ousadia
a força bruta que mascara a fraqueza de espírito
a fragilidade aparente que revela a grande força interior
a insensatez da razão
a sabedoria do insensato
a singela lágrima que contém a emoção
o choro incontido que extravaza a frustração
o rubor da face
e todas as cores, tons, vozes, silêncios, toques, distâncias
e até mesmo ausências.

e me sinto

sincero
puro
tímido
ousado
forte
fraco
frágil
insensato
sábio
racional
irracional

e então

me contenho
desabafo
choro
sinto
cheiro
vejo
ouço
toco

ou

fico em silêncio...

ou então

...me ausento.

DTRIAGGEORN = [(2n) & (2n+1)]

(Enigma) - (Chave de decodificação)


Decodificando:

n – representação matemática de um número qualquer

2n – um número qualquer multiplicado por 2 = um número par.

2n+1 – um número par somado a 1 = um número ímpar.


DTRIAGGEORN = PAR & ÍMPAR

PAR = 2ª, 4ª, 6ª, 8ª, 10ª letras.

ÍMPAR = 1ª, 3ª, 5ª, 7ª, 9ª e 11ª letras.

- T - I - G - E - R
D - R - A - G - O – N


Tiger & Dragon


Tigre e Dragão representam a dualidade do TAO – Yin e Yang – positivo/negativo, certo/errado, bem/mal, luz/escuridão. As letras mescladas simbolizam a unidade do ser em harmonia – o caminho do meio.

No entanto, é extremamente difícil entender esse caminho, pois para assimilar o todo é preciso primeiro entender as especificidades que o compõe: perceber cada aspecto do ser, sem considerá-lo como único ponto de vista aceitável, e depois ligar as peças, para compor o ser completo.

Mas para conseguir entender o todo à nossa volta, é preciso primeiro harmonizar o todo em nós mesmos, aprender a usar de todas as nossas habilidades, unir o racional e o emocional de forma equilibrada, e uma vez tendo encontrado esse equilíbrio interior, o equilíbrio à sua volta não parecerá estranho.

A vida é feita de escolhas que geralmente são feitas de forma inconsciente ou inconseqüente. É chegado o momento de fazer acontecer. E, uma vez conscientes do caminho a seguir, não há obstáculo possível.

Åndarilho §amurai

Eu sou

Só uma pessoa; uma pessoa, só.

Que anda pelo mundo todo, sem dar nem ao menos um passo;
E passa por todo o mundo, sem andar pelo caminho de ninguém.
Alguém muito maior que sua própria existência
E ao mesmo tempo tão ínfimo que nem ao menos parece existir.

Que fala demais sem dizer nada
Diz nada através de muitas palavras
Mas somente através do silêncio consegue realmente dizer tudo.
Mesmo que esse tudo muitas vezes não signifique nada.

Posso não ser aquilo que esperam de mim;
Posso esperar mais do que as pessoas querem ser;
Posso ver o que ninguém vê;
E não ver o que imaginam que vejo.

Mesmo assim sigo sendo quem sou
Mesmo sem saber se isso quer dizer algo ou não;
Ou se pra onde sigo, quem sou realmente importa
Ou talvez, não importe mais seguir, mas somente ser.

Não basta ser cego, surdo ou mudo,
Ou mesmo ver, ouvir ou falar,
Se não sabemos prestar atenção a nada
Além daquilo que não é.

Um ser que anda,
Uma “coisa” em forma de gente,
Um ser de outro mundo,
Ou um mundo inteiro sem ser.

Não importa, já não estou mais aqui,
Se é que alguma vez estive;
Estou em todo o lugar,
Procure e me encontrará.

Gênese – Parte I

E Deus criou o Universo. Obra-prima, beleza de uma imensidão inigualável. Também, foram 6 dias ininterruptos de trabalho! Mas faltava alguma coisa, não parecia estar certo... Ah, lógico! Como o Poder Maior, o Onipotente e Onipresente, o Criador do Universo em toda a sua complexidade poderia deixar de assinar a sua obra? Mas, como criar um nome que pudesse representá-lo? Não havia palavras que pudessem representá-lo, tanto é que até hoje já inventaram várias, e não se chegou a nenhuma conclusão definitiva. Não, uma palavra não bastaria, melhor um símbolo, uma imagem. Mas não estática, teria que ser dinâmica, afinal Deus também é movimento.

E Deus criou o Homem. O fez à sua imagem e semelhança. Mas como representar a si mesmo, o Todo-Poderoso com algo assim, tão minúsculo? Quer dizer, considerando toda a grandiosidade da criação, colocar um simples exemplar de si no meio daquilo tudo seria o mesmo que assinar a Mona Lisa com um milionésimo de um pingo de tinta. Bem melhor seria encher a obra toda com várias assinaturas então, espalhadas por aí; assim, aonde quer que alguém fosse, poderia reconhecer o autor, sempre haveria um homem a representá-lo.

E Deus encheu a Terra de homens. Eis que surgiu então outro problema: como tomar conta de tantos exemplares de si? Tomar conta de um só até vai, não daria tanto trabalho, por mais sujeira que pudesse fazer. Afinal de contas, era só uma coisinha de nada, nem ia atrapalhar o dia de descanso depois de todo aquele trabalho. Mas tendo criado tantos, espalhados por todo o mundo, pra conseguir descansar só depois de eras evoluindo aquela tropa toda.

E Deus criou a Consciência Humana. Resolvido o problema: o homem que cuidasse de si mesmo. Afinal de contas, se ele seria a imagem de Deus na Terra, então que tivesse também parte do seu poder de criação, da sua sabedoria. Opa, mas espera um segundo: se ele tiver essa consciência, não vai querer ser ele então o dono de tudo? Não irá querer tomar pra si tudo aquilo que na verdade, assim como ele, era obra do Criador? Não, nada disso, o homem não poderia ter toda a Consciência, senão em muito pouco tempo o mundo seria uma bagunça sem fim. Por outro lado, sem toda essa força, seria impossível ao homem evoluir e cuidar de si mesmo sem interferência, logo estaria extinto. Mas como fazer um homem completo e de consciência plena sem que ele consiga perceber que tem todo esse poder ao seu alcance? A solução seria escondê-lo em um lugar onde o homem jamais sonharia procurar.

E então, Deus criou a Mulher...

Åndarilho §amurai

Distância

A distância nada mais é do que uma ânsia, que dista de um ponto a outro no universo; um afã, de ultrapassar os limites do físico, de ir além da própria razão, de alcançar o inalcançável.

Já o inalcançável, é o in-alcançável; aquilo que somente pode ser alcançado no íntimo da nossa própria consciência, e como tal, incompreensível para qualquer outro ser que não esteja também lá, vendo tudo pela nossa perspectiva interior.

O incompreensível, no entanto, é também o in-compreensível; aquilo que se entende de uma forma tão plena, e tão complexa, que nosso parco idioma verbal e escrito não consegue definir de uma forma que consiga aplacar aquele incômodo ínfimo da razão, que se depara imóvel diante de algo tão maior que, por mais que erga sua cabeça e espiche seus olhos, não consegue contemplar o todo.

Já o todo, é tudo o que é... compreensível, alcançável, ínfimo e universal; a proximidade de fazer parte desse todo é que o torna in-compreensível, e a distância é que faz com este todo seja tão ínfimo, que se torna incompreensível explicar algo tão mínimo comparado com a nossa consciência.

Consciência... nada mais do que com-ciência; estar ciente de que absolutamente nada do que foi dito ou pensado até este momento tem alguma serventia maior do que a nossa própria noção daquilo que rege o universo.

Mas o que é o universo, senão unir versos, sentenças palavras, códigos que só fazem algum significado para aqueles que conseguem decifrá-los... e ainda assim, têm tantos significados que decifrá-los nada mais é que ler novos códigos, que podem ser interpretados de tantas formas que talvez nunca sejam realmente entendidos... ou quem sabe o sejam, de diferentes formas, em diferentes épocas, através dos mesmo olhos.


Åndarilho §amurai

Sonho eterno de uma alma com esperança

Há muito tempo atrás, um rapaz olhou para o sol e sonhou alcançá-lo. Muitos à sua volta disseram-lhe que era loucura, que um homem não podia chegar ao sol. Mas, ainda assim, ele não desistiu de seu sonho.

Muito tempo passou, até que ele finalmente concretizou seu plano: armações de madeira ligadas aos braços, cobertas por penas de aves coladas com cera, um lugar alto e correntes de vento para amparar seu impulso. E assim, num ímpeto de certeza de poder realizar tudo aquilo que sonhara, lançou-se rumo a seu destino.

O calor do sol aumentava na medida em que ele chegava mais e mais perto de alcançar um sonho. Com o tempo, e com a cera derretendo, ele caiu. Mas a queda foi do homem já realizado, por saber que o sonho não morreria com ele: o sol já havia sido alcançado, na chama que ficou acesa na memória e no coração de outros que o sucederam.

E assim, anos e anos mais tarde, o homem enfim ganhou asas. Cada vez mais velozes, e a cada década mais e mais resistentes, a ponto de chegar não ao sol, mas ao menos de pisar na lua. E o sonho continua, os destinos se ampliam, e quem sabe um dia, depois de marte e saturno, outras galáxias ainda virão. Ainda não vieram na realidade, e até parece loucura aos que nos cercam, mas já existe há muito nos sonhos, não mais de um único homem, mas de vários que hoje acreditam que seja possível.

O limite de um sonhador é a infinidade de sua imaginação. E por mais perecível que seja o seu corpo, sua alma sempre resistirá até o limite de seu sonho. E, sabe aquele homem que um dia caiu? Depois de perder as asas virou um andarilho, e segue caminhando ao encontro do sol. E está quase chegando lá...

Åndarilho §amurai

Climb it!

 
  O risco de escalar uma montanha é certo; são vários os motivos para não fazê-lo, desde a possibilidade de não ter forças para completar a jornada, até pedras que podem cair ou se soltar, na tentativa de nos derrubar. Mas então porquê escalar?

  Superar desafios faz parte da natureza do ser humano. Em determinados momentos de nossos caminhos, nos deparamos com obstáculos a serem superados, muitos deles aparentemente intransponíveis. Mas o ímpeto de vencer, seja para provar a nós mesmos, seja para que outros reconheçam nossa determinação, muitas vezes supera o medo de não chegar lá; outras vezes, no entanto, ficamos sentados na base da montanha, indecisos entre ir e ficar. Ou então paramos no meio do caminho, por não haver meios de prosseguir, não sem encontrar uma forma nova de encarar o paredão à frente, para encontrar aquele nicho que falta pra servir de apoio.

  Outras vezes o apoio vem através de outra pessoa, que já escalou aquele pedaço e conhece alguns caminhos. Mas como saber se a indicação é a correta? Como confiar no conselho de outra pessoa, que pode tanto tentar nos fazer prosseguir quanto pode também nos antecipar uma nova queda? E assim, surgem mais dúvidas e indecisões no caminho.

  Chegar ou não chegar ao topo depende de cada um, seja através de seu próprio esforço, ou de saber quando pedir ajuda. E também da forma de utilizar cada informação recebida, ou como aproveitar cada brecha, caminho ou mesmo obstáculo que encontre. Mas, acima de tudo, ter a consciência de que chegar ao topo importa tanto quanto o caminho que se toma para chegar lá. E a experiência será recompensadora ou não depende da forma como cada um vai valorizar a vista que terá lá de cima. E, principalmente, o quanto aprendeu durante o percurso.

  Åndarilho §amurai

Cosmogonia

   No início, tudo era escuro, vazio, sem graça. Meio lugar comum, sabe? Acordar, passar pelas trivialidades do dia, e depois dormir de novo. Nada de muito interessante. Então, um dia, meio sem querer, eles viram um ao outro. À distância, sem nem mesmo reparar direito. Ambos já existiam antes desse dia, mas simplesmente ignoravam a existência um do outro. Freqüentavam um mesmo espaço, porém distantes um do outro, fisicamente, e por isso demoraram tanto tempo para se conhecerem.

   Durante o dia conversavam, brincavam, riam; ou então, mesmo quando não havia assunto, compartilhavam calados um da presença do outro. E cada vez mais se sentiam ligados, unidos por algo muito maior do que simplesmente uma amizade casual. E perceberam então que, independente do que acontecesse a partir de então, um estaria sempre ali para o outro, havendo ou não necessidade. Ao final da tarde, despediam-se certos do reencontro no dia seguinte; ainda assim, mesmo sem perceber, algumas vezes ele virava a noite, ansiosamente, esperando o momento de reencontrá-la.

   Ele não era um cara solitário, muito pelo contrário. Era até bem apessoado, e tinha uma grande capacidade de inspirar outras pessoas. Admirado por muitos, desprezado por outros tantos, sempre era alvo de olhares aonde quer que aparecesse, e vivia a aconselhar pessoas solitárias ou com problemas a resolver. Ou, calado, tornava-se confidente dessas pessoas, quando buscavam apenas um ombro pra chorar e um desabafo seguro. Também ajudava, aos que recorriam a ele, a conquistarem ou reconciliarem-se com seus pares, e resolverem seus problemas afetivos. Sua criatividade e presença já havia sido motivo de textos, poemas, músicas e diversas outras expressões artísticas. Aliás, arte era o que mais lhe motivava, aquilo do qual ele sentia, mesmo que tivesse percebido somente depois de muito tempo, que ele realmente fazia parte, fossem simples palavras ou complexas imagens, de simples frases a elaboradas metáforas.

   Ela era forte, radiante, e linda, muito linda. Mesmo que ela não conseguisse ver muito disso em si própria, com certeza via à sua volta. Onde quer que estivesse, existia vida, alegria, cores e mais cores. Seu calor e alegria estava presente por onde passasse, e também era fonte de inspiração de muitos. Sua companhia era certa em praias e viagens de férias no verão, ou mesmo algum fim de semana que propiciasse um bom churrasco ao ar livre.

   O que causava admiração de uns, incomodava outros, que preferiam viver à sua sombra, ou diminuir sua capacidade e brilho. Alguns dias mais nebulosos a deixavam meio apagada. Mas mesmo quando algo ou alguém tentava barrar seu caminho, nunca deixava de acreditar que poderia vencer. E quando desanimava, encontrava nele apoio certo, uma vez que, mesmo nunca a tendo visto de perto ou estado junto a ela, conseguia ver como ninguém toda a sua beleza e força.

   Ele também tinha sua luz, mas não o tempo todo. Ficava meio pra baixo algumas vezes, de uma hora pra outra. Mas sabia que eram só fases, e que logo seu ânimo e inspiração voltariam. E ela sempre o ajudava – e muito – a confiar nisso e se reerguer, a maioria das vezes sem precisar dizer nada; só o fato de saber que ela estava lá já o ajudava a crescer novamente.

   Ambos têm histórias muito parecidas, apesar de não serem irmãos. Na verdade não somente parecidas, suas vidas parecem ser meio opostas. Não contrárias, no entanto... são complementares. Ela gosta mais do calor, ele do frio, mas ambos preferem a meia-estação; e muitos outros aspectos de suas vidas se parecem e complementam, e isso fez com que se sentissem cada vez mais próximos um do outro, apesar de fisicamente estarem sempre a uma mesma distância determinada. Às vezes ela viaja, um pouco mais pra longe dele, ou um pouquinho mais para perto, mas ainda assim permanece sempre distante demais para que possam encontrar-se pessoalmente, trocar um abraço ou um beijo. Já ele não, permanece sempre no mesmo lugar, apesar de nunca estar realmente parado. Está sempre andando, mas pelos mesmos caminhos rotineiros aos quais está preso, por responsabilidades das quais não pode se abster. Do contrário, como já disse inúmeras vezes, já teria há muito tempo ido ao encontro dela.

   Ele, apesar de ter alguns amigos, que procuram nele conselhos, apoio ou simplesmente companhia distante, não costumava sair muito, é meio solitário em suas caminhadas, mesmo sabendo que tem amigos próximos. Poucas pessoas chegaram realmente perto dele o suficiente para tocá-lo, mas nenhuma permaneceu por muito tempo, e isso deixou algumas marcas, que o ensinaram a aprender com essas experiências, e sobreviver a elas, sem nunca esquecer que aconteceram, ou a participação que teve nelas. Ela, no entanto, tem alguns amigos ao seu redor, fiéis e companheiros, que ele vê à distância também, e com os quais nunca conversou diretamente. Sabe deles somente através dela, quando ela mostra suas imagens ou menciona seus nomes.

   Ele sempre soube que alguém tão iluminada e bela não poderia existir sozinha, sem ser admirada por todos ao seu redor. Sente um pouco de ciúmes, claro, pois outros têm a proximidade física que ele gostaria de ter. Mas ainda assim sabe que, contanto que ela esteja feliz, ele também estará, mesmo não se sentindo totalmente completo, pois percebeu ao longo desse tempo de relacionamento que muito do que ele é reflete muito do que ela irradia, e que sendo assim, uma parte do que ele é nunca esteve realmente consigo, mora no coração dela.

   O que eles têm e compartilham é muito mais do que ele esperava um dia conhecer, e isso nada ou ninguém poderá diminuir ou roubar deles. Porque ela existe, existe vida ao seu redor; porque ele existe, nada poderá fazer com que ela deixe de brilhar. E enquanto ela brilhar, nada poderá tirar-lhe a força e a inspiração. E, ao redor deles, o mundo gira.

   Seus nomes? Ela: o Sol - Ele: a Lua.

 
   Åndarilho §amurai

Quando o silêncio fala mais alto

  Existem momentos na vida em que uma palavra é demais. Quando nada no mundo pode nos ajudar a entender o porquê da vida parecer tão injusta e nos castigar tanto, quando a maior parte do tempo estamos apenas lutando pra levar nossas vidas o melhor possível, na mera ilusão de assim conquistar um pequeno espaço de conforto interior que possamos chamar de “felicidade”.

  E nesses momentos em que tudo é demais, seja uma palavra, um gesto, um olhar; quando tudo parece conspirar ainda mais ao invés de nos trazer alguma orientação sobre o que essa confusão toda pode significar, só encontramos algum conforto no silêncio da solidão. E, por mais que tentemos nos agarrar a este silêncio e a esta solidão, parece que mesmo a solidão fica gritando nos nossos ouvidos, tentando dizer sei lá o quê – se é que tenta mesmo dizer algo, já que não estamos mesmo querendo ouvir nada...

  Então, quando finalmente cessa a gritaria da solidão, estamos encerrados dentro de nós mesmos, encolhidos onde finalmente nada nem ninguém pode nos perturbar, onde não há palavras, gestos, olhares e expressões que possam nos atingir. E então, por uma fração de segundo, temos uma ínfima sensação de paz.

  Mera ilusão, truque engendrado por nós mesmos, uma armadilha: logo nos damos conta que ainda sobrou alguém a nos olhar, a gesticular e a compartilhar nossa existência. E, antes que possamos esboçar qualquer movimento de fuga, ouvimos outra vez as palavras.

  "Já cansou de fugir? Ou vai continuar ainda? Hum... não esperava mesmo que respondesse alguma coisa... Afinal de contas, não precisa mesmo, porque já está respondendo. Acredito que já tenha percebido que não há lugar pra onde você corra que possa afastá-lo de mim. Só não sei ainda se você entendeu que precisa ouvir o que eu digo".

  "Quando você veio a este mundo, trouxe consigo tudo o que precisava para cumprir sua missão. Porém, para chegar até aqui, foi preciso desenvolver um corpo físico, processo relativamente demorado, do ponto de vista desta dimensão. E as pessoas à sua volta, não percebendo o quanto estava dizendo a elas com o seu silêncio, acreditaram que o seu tamanho e – aparente - fragilidade eram sinais de fraqueza, de necessidade de proteção. Tudo bem, o plano era esse mesmo... do contrário as pessoas seriam indiferentes à sua chegada, e a missão fracassaria mesmo antes de começar. O problema é que este envolvimento a que você submeteu as pessoas à sua volta não funciona em uma única via... e você também se envolveu com elas. O que também fazia parte do plano, afinal, se não houvesse essa troca você não poderia ensinar a elas, ou aprender com elas".

  "E você aprendeu. Mas começou aprendendo que a aparente “fraqueza e fragilidade” eram reais, e esqueceu aquela força que tinha quando chegou. E acreditou que precisava de outros pra te proteger, e que não tinha força para proteger os outros. E pensou que precisava aprender a ter força, e perdeu a força de ensinar... Eu bem que tentei te avisar, gritei até não poder mais que a força estava aqui o tempo todo, junto comigo, você é que a procurava no lugar errado. Mas, infelizmente, o barulho de todos à tua volta era maior – na verdade não maior, mas mais importante, porque acreditavas muito mais nelas – do que a minha. Minha voz estava lá, sempre esteve... mas você não ouvia, ou melhor ainda, fingia não ouvir. E aqui estamos nós".

  "Pois bem, agora que eu tenho toda a tua atenção, quero dizer que não há mais nada a dizer. Pelo menos não de minha parte, uma vez que tudo o que estou dizendo agora só está sendo ouvido porque agora você consegue ver o que eu há muito tempo tento te mostrar. A única coisa que me resta dizer é: ouça mais, e perca menos tempo. Dizem que o tempo é o senhor da razão... mas na verdade o tempo é uma mera ilusão. Ilusão de quem não sabe onde procurar as respostas, ou tem medo de encontrá-las, medo de não ter razão. Então o tempo passa a ser o guardião dela, da razão. Assim nunca se descobrirá de quem era a razão, já que o tempo nunca poderá ser alcançado..."

  "Bem, agora que você já viu que não há tempo, e nem pessoa no mundo que possa esconder a razão o suficiente para que possa fugir da sua própria verdade, encare os fatos: não há nada no mundo que alguém faça ou diga que possa diminuir a tua força, aquela força verdadeira, a que você perdeu há tanto tempo e reluta em procurar no lugar certo. Não desista da tua missão, mesmo não sabendo que missão é essa. Você não sabe, porque eu sei... e isso também faz parte do plano, porque se você soubesse qual é a missão, não poderia cumpri-la corretamente. Mas eu estou aqui justamente pra garantir que você cumpra a sua parte, pois se você não cumprir a sua, eu não terei cumprido a minha".

  "Quem sou eu? Olhe pra mim, sem medo, e saberás. Na verdade já sabes, mesmo não querendo olhar. E se não quiseres me chamar pelo mesmo nome pelo qual todos à tua volta conhecem, podes me chamar de Espelho".

  Åndarilho §amurai

Divagações de Inverno

As pessoas passam a vida inteira procurando algo que preencha um certo vazio interior, uma sensação de deslocamento no tempo-espaço, uma intuição que diz lá no fundo do seu âmago que a vida não pode ser somente isso que se passa aos olhos da maioria conformada. E, quando encontram alguém que parece preencher esse algo que falta, descobre que esse alguém também está procurando algo ou alguém que preencha o seu vazio... mas encontra em outro lugar, em outra pessoa, que também está procurando esse algo mais em outro, e assim todos se perdem num emaranhado sem fim de encontros e desencontros, de disputas de poder e de posse por algo que nem mesmo existe, porque esse vazio é vago, e o que pode preenchê-lo, indefinível.

Pessoas que estão perto muitas vezes estão tão longe que, se fossem se distanciar fisicamente, teriam que sair de órbita (e algumas realmente estão fora de órbita, a maior parte do tempo); pessoas que parecem distantes muitas vezes estão tão próximas que já não se distingue onde começa um e termina o outro; corações são músculos que bombeiam o sangue dentro de cada corpo, mas são fragmentos de um que existem dentro de muitos, e partes de muitos que moram dentro de um; a alma é aquela parte de nós que ouve uma voz ou lê uma mensagem, e já sabe a palavra seguinte antes mesmo de ser escrita ou dita, e sente se o "oi" ou "bom dia" vem acompanhado de sorrisos ou de lágrimas, antes que a conversa comece.

"Diz-me com quem andas, e te direi quem és"? Digo mais, ouso além do senso popular: Sinta aqueles que amas, e saberás quem és, independente do que eu possa te dizer, ou do que o mundo pareça contar.

O vazio é real? Se for não é vazio; e se vazio for, não é sentido. E se não é sentido, não faz parte da vida. Mas mesmo não fazendo parte da vida, pode fazer parte do mundo, assim como muitas outras partes do mundo que são tidas como reais e concretas, mas são tão ou mais vazias do que todo esse discurso, para aqueles que, chegando a este final, acreditarem que acaba aqui.

Andarilho §amurai

Minha vida, minha Bíblia

Minha vida é um livro aberto, escrito em um idioma que só eu entendo. Assim como a Bíblia:
- todos podem ter acesso a ela;
- muitos gostam de falar dela;
- poucos são os que realmente a leram;
- raros os que leram e conseguiram realmente entender algo;
- e, certamente, ninguém ainda conseguiu compreender a totalidade dos seus ensinamentos.

Minha vida também é composta de vários livros, cada um escrito pelo ponto de vista de outras pessoas, e sempre depois da minha morte. Muitas vidas, muitas mortes, muitos livros. E cada pessoa que ouve ou lê o que se escreve em cada um dos livros, conta ou escreve a história novamente, segundo a sua opinião, seu ponto de vista.

Minha vida é escrita originalmente em um idioma há muito esquecido pela civilização, perdido por tantos milênios que eu mesmo quase não consigo mais decifrar... Mas ela também é traduzida em vários idiomas, por várias pessoas, sem, contudo, conseguir preservar a totalidade de sentido que só o idioma original pode transmitir. O que não significa que seja impossível apreender a mensagem a partir de cada tradução. A mensagem está lá, mas somente para quem tiver a mente aberta o suficiente para alcançá-la.

Complicado? De forma alguma... Não é porque o idioma original se perdeu no tempo que ele não pode ser recuperado pela memória... Como encontrar? Mais simples ainda: não procurando.

Åndarilho §amurai

Morpheus

Chamam-me costumeiramente de sonhador, porque ando pela rua mergulhado em pensamentos. Ligo o piloto automático que me guia sempre pelo mesmo caminho, de casa até a faculdade, e simplesmente me desligo do mundo à minha volta. Chego a perder a noção do tempo, imaginando-me em diversas situações, problemas que tenho para resolver, pessoas com quem tenho que falar, coisas rotineiras a fazer. Porém me dou conta que, estando tão desconectado da realidade ao meu redor, quase seria possível afirmar que realmente não faço parte dela, estou literalmente em outro lugar, falando com outras pessoas, fazendo outras coisas, ao invés de estar lá, caminhando pela rua. O que faria de mim não um sonhador, mas um viajante de muitas realidades, todas elas concretas e possíveis.

Se a forma de empreendermos a realidade é através dos nossos sentidos, e esses são percebidos através de impulsos, estímulos neurais no interior de nosso cérebro, então a realidade, o momento em que estamos, o lugar por onde andamos, não é aquele por onde nosso físico percorre, mas aquele por onde nossa mente viaja, pois é nela que se encontra a noção da realidade. Sendo assim, o sonho nada mais seria do que uma viagem, no tempo e no espaço, onde percorremos lugares distantes, passamos horas interagindo com outras pessoas e lugares, no tempo “real” de apenas alguns minutos.

Isto pode parecer ilógico, talvez até provocador demais para aqueles que não se permitem sonhar, e acreditam que existe uma única realidade possível, e um único tempo corrente. Pois bem, mesmo esses céticos, ao menos a maioria deles admitem essa possibilidade, ao acreditarem na figura onipotente e onipresente de Deus. Ora, quem seria Deus senão a representação de um sonhador? Onipotentes, no momento em que realiza tudo aquilo que quiser realizar, e ao mesmo tempo se quiser, usando somente a força de um pensamento; onipresentes, existindo em várias realidades, vários lugares, várias épocas ao mesmo tempo, sem nem ao menos precisar sair do lugar. E não dizem, e mais ainda, acreditam, que Deus é tudo o que existe? Bom, já dizia o filósofo na antiguidade: penso, logo existo. Mas enquanto ser humano, limitado. No entanto, no momento em que sonho, existo de forma onipotente, onipresente, então existo não como ser humano, mas como Deus.

Isto poderia soar como uma intenção um tanto quanto presunçosa de me dizer melhor do que as pessoas ao meu redor, no entanto a própria religião pode ser usada como resposta, quando diz “ama ao teu próximo como a ti mesmo”. Ou seja, tenho consciência de que assim como sou um sonhador, também todas as pessoas o são, mesmo aquelas mais céticas se entregam inconscientemente ao sonho quando dormem, e que ao acordarem recusam-se a lembrar disso.

(texto escrito no semestre passado, para a cadeira de Comunicação em Língua Portuguesa III da faculdade)

Åndarilho §amurai

Um Sonho de Liberdade*

Nunca fui um papagaio muito emotivo, ou de muitas ambições, até alguns meses atrás, antes de minha morte. Era conhecido por ter as mais belas penas do viveiro onde nasci, e tinha muito orgulho disso. Lembro que o ancião do viveiro sempre dizia que muito em breve eu sairia dali, e iria pra algum lugar com muito espaço, comida farta, um poleiro novinho e viveria feliz. E, finalmente chegou o dia: uma mulher veio, olhou o viveiro inteiro, depois pra mim e disse: “Aquele ali”. E foi então que iniciei o que pensava ser uma jornada rumo a uma vida feliz em liberdade, sem imaginar que estava embarcando rumo ao meu destino final.

Lembro da primeira vez que vi minha dona: olhei pelo buraco da caixa de papelão e vi uma menina magra, aparentemente meiga, toda arrumadinha. Ela abriu a tampa da caixa e vi seu olhar, por trás daqueles óculos, fundo de garrafa, perder o brilho rapidamente. “Isto é um papagaio!" – gritou ela – “Eu quero um cachorro!”. “Bruninha, eu já te falei que cachorro eu não compro” – respondeu a mulher que me trouxera do viveiro, dirigindo-se à porta. “Além de ser alérgica a pêlos, nós moramos no décimo andar. Estou saindo pro trabalho, até a noite!”. Em protesto, a menina arrancou-me uma pena da cauda. Bateu o pé, choramingou, e subiu para o seu quarto, me sufocando em seus braços. Já havia perdido a esperança de um futuro feliz com sombra e água fresca, mas o pesadelo mesmo começou quando ela me atirou em uma gaiola apertada e suja, e gritou: “Você é um cachorro, e vai se chamar Rex!”.

Daquele dia em diante, iniciou-se uma torturante rotina de passeios diurnos guiado por uma coleira, uma tigela de ração e outra de água por dia, e muitas, muitas penas arrancadas, na esperança de que um dia, talvez nascesse algum pêlo em meu corpo. Mas o mais humilhante de tudo, foi a tentativa de adestramento. Andar, parar, deitar, rolar, fingir de morto, como entender aquilo tudo? Ao ouvir cada ordem, cada comando, a única coisa que eu conseguia, ou mesmo sabia fazer, era repeti-las, o que fazia com que ela tivesse grandes acessos de raiva. E, então, mais penas arrancadas.

Acabei aprendendo a gostar da ração, já nem sentia mais as poucas penas restantes serem arrancadas, e os passeios diários eram a única coisa que realmente que ainda me causava algum sentimento, davam-me esperanças de um dia conseguir me desvencilhar daquilo tudo e conquistar a tão sonhada liberdade. A chance finalmente surgiu quando, um dia, ela colocou a gaiola em cima da mesa, para trocar a água e colocar minha coleira pra passear, como de costume. Demorei um bom tempo pra entender aquela sensação que tomou conta de mim, alguma coisa estava diferente, mas não conseguia perceber o quê, até que me dei conta que o barulho dos carros estava mais alto do que de costume. A janela aberta, bem ao lado da mesa! Pela primeira vez pude ver nitidamente, sem aquele vidro escuro fechado, a luz do sol invadindo a gaiola, as árvores balançando ao vento, o som de pessoas e de trânsito lá embaixo. Era minha chance, não podia perdê-la de jeito nenhum! Respirei fundo, e esperei.

Foi então que ela, como esperado, abriu a portinhola para colocar a tigelinha de água, e me pegar pra mais um passeio matinal. Súbito, dei-lhe uma bicada na mão, que a fez pular pra trás e gritar. Saí da gaiola e me pus a correr em direção à janela, ganhando mais e mais velocidade, até saltar, asas abertas, finalmente livre, sentindo o vento nas... Penas!!

O ímpeto de me libertar daquela prisão não me permitiu perceber que já havia me acostumado tanto às penas arrancadas, que esqueci completamente de uma das funções básicas delas: me permitir voar. Enfim, a liberdade veio, não através do grande céu aberto, mas de outra prisão, muito breve, entre o asfalto e o pneu de um veículo qualquer. Livre da gaiola, e do corpo castigado, pude finalmente encontrar a paz.

ŧ

(*) Texto escrito em conjunto com os colegas Ariane Rauber, Mauricio Thomsem e Vivian Dal’Alba, trabalho da cadeira de Português III da facul, a partir de personagens criados por Wesley Kuhn, Mayara Bortolotto e Lucas Ladwig:

"Uma criança que foi mimada demasiadamente pelos pais. Egoísta, chorona e rica, não poupa esforços para conseguir o que deseja. É muito magra, e usa óculos “fundo de garrafão”. É muito chata, e por isso não tem amigos, só um papagaio. Não tem irmãos, seu pai morreu e sua mãe passa muito tempo fora de casa e, para compensar isso, enche a criança de presentes. Nome da criança: Bruna"

Ouro de Tolo

Meses atrás, conversando com uma amiga, deparei-me com a seguinte declaração: “se os homens fossem dinheiro, o mundo estaria cheio de notas falsas...”. Imediatamente rebati a sentença dizendo: “haveria algumas notas verdadeiras por aí... só que ainda assim seriam apenas pedaços de papel...”.

Nunca tinha relacionado dinheiro e pessoas desta forma, e apesar de serem coisas à primeira vista totalmente distintas, pode-se fazer um paralelo interessante a respeito. Foi o que descobri logo após a conversa com minha amiga, quando parei e comecei a refletir a respeito destas duas afirmações acidentais.

Analisando isoladamente cada um, encontramos diferenças óbvias, afinal pessoas são seres vivos, e não objetos, como o dinheiro; são orgânicos, respiram, se movem e etc., ao contrário, obviamente, do dinheiro. E são diferentes entre si nos seus muitos detalhes, como cor de cabelos, de olhos, estatura e até DNA, enquanto com o dinheiro não há diferença entre moedas e cédulas de mesmo valor, são todas iguais em tamanho, forma e cor - com exceção da numeração de série, no caso das cédulas.

Mas tudo bem, encontrar diferenças entre dinheiro e pessoas é até simples, mas o quê exatamente haveria de semelhante entre eles? Bom, eu poderia dizer que as pessoas falam, mas muitas vezes o dinheiro fala mais alto; pessoas pensam, mas muitas vezes quem decide a questão é o dinheiro, só que seguindo esta lógica de raciocínio eu seria imediatamente refutado, por estar utilizando figuras de linguagem que somente tomadas ao pé da letra poderiam atribuir semelhança. Então como encontrar semelhanças entre dinheiro e pessoas sem recorrer a trocadilhos e metáforas? A conclusão a que cheguei, concordem vocês comigo ou não, é simples e ao mesmo tempo complexa: convenção social.

Analisando sob este aspecto, tanto o valor do dinheiro quanto das pessoas é convencionado socialmente, e esta convenção em ambos os casos vêm se modificando no decorrer da história. Mas vamos nos ater ao momento atual, porque fazer uma análise histórico-evolutiva minuciosa seria um tanto demorado e cansativo.

O dinheiro surgiu como uma forma de equalizar as relações comerciais entre diferentes países ou sociedades, como forma de evitar conflitos. Inicialmente este valor de troca era algum produto, como o sal, por exemplo, e ao longo da história chegamos às atuais moedas, de papel, metal, e ainda com o avanço das tecnologias, o dinheiro eletrônico. Olhando mais de perto cada um deles, não passam de papel, metal fundido e cunhado, e códigos binários numa rede de informação; o que faz com que tenham relevância em transações comerciais é a sua convenção social, ou seja, as pessoas determinaram que aquela rodinha de metal fundido com um número 1 cunhado no meio dela vale 1 unidade monetária, que aquele papel colorido com um número 10 desenhado nele vale 10 unidades monetárias, que aquele código binário que resulta em uma seqüência numérica, por exemplo, de 1 seguido de 6 zeros, equivale a um milhão de unidades monetárias (provavelmente da conta bancária de algum político...).

Já as pessoas têm seu valor, ou status, também convencionado pela sociedade. A própria sociedade, em si, é uma organização convencionada pelas pessoas para que possam coexistir sem maiores conflitos. No decorrer da história, algumas pessoas chegaram a serem usadas inclusive como moeda de troca, como os escravos, por exemplo, e somente os homens tinham valor na sociedade, eram considerados como pessoas, ou cidadãos. Mais tarde – bem mais tarde – as mulheres conseguiram provar que eram tão (ou até mais) valiosas na sociedade quanto os homens, e conseguiram também ter o seu reconhecimento social, apesar de ainda hoje, em muitas áreas este valor da mulher ficar ainda abaixo do valor dos homens. E, com o advento da tecnologia, surgiram também as pessoas virtuais, seqüências de códigos binários que representam pessoas e são aceitas socialmente como tal. Hoje em dia, muitas pessoas fazem parte de sites de grupos virtuais, como orkut, gazaag ou outros, e neles criam sua personalidade virtual, sua convenção eletrônica, que muitas vezes não tem absolutamente nada a ver com a versão física, e para as outras pessoas que não as conhecem pessoalmente, o valorizado é o amigo eletrônico, e não a pessoa real.

E o mais sinistro: muitas pessoas também passam a colecionar amigos virtuais, adicionando e pedindo pra serem adicionados por outras pessoas com as quais não têm o menos envolvimento ou contato, apenas para engordar a sua conta de amigos virtuais, e poder dizer que tem não sei quantos mil amigos, sendo que não sabe nem o nome de cada um deles. É mais ou menos como uma conta bancária de amigos: assim como o dinheiro, eu não tenho contato com as moedas, mas sei que elas estão virtualmente no meu banco. Se um dia eu precisar, eu vou lá e resgato; já no site, eu não tenho o menor contato com aqueles amigos, mas se um dia eu precisar, posso buscar alguém lá pra conversar. A diferença é que, desde que eu tenha saldo na conta, o dinheiro nunca vai se negar a ser gasto, já no caso das pessoas nem sempre eu vou encontrá-las disponíveis pra me ajudar.

Infelizmente essa semelhança entre dinheiro e pessoas não se restringe ao mundo virtual, no que diz respeito à depreciação de valor. Assim como existem moedas de diferentes valores, também as pessoas têm mais ou menos valor social, o que é chamado de status. Há aqueles considerados importantes, inacessíveis ao homem comum, como as notas de 100, que a gente sabe que existe mas se viu ao vivo foi uma, no máximo duas vezes na vida. Há o cidadão comum, classe média, que circula todos os dias por aí, e todos estão acostumados a ver e lidar todo dia, como as notas de 50, de 10, de 5... e tem também aquelas pessoas que são menos importantes na escala, que existem aos montes por aí, e quase ninguém repara. Alguns estão rasgados, amassados, sujos, como as notas de 1, outros a gente simplesmente passa por cima, quase não dá importância, como os centavos.

Alguns podem não concordar com essa minha análise comparativa, inclusive alegando que essa convenção social com relação às pessoas não se dá somente no âmbito da convivência, mas também existem laços de afinidade e relações de parentesco que atribuem valor às pessoas, o que não ocorre no caso do dinheiro. Bom, de certa forma sim, já que o amor de uma mãe por seu filho não pode ser comparado desta forma, mas o respeito entre membros de uma mesma família, as relações de obediência, de não procriação entre parentes próximos, são padrões convencionados socialmente também, mesmo que não encontrem seus similares nas convenções monetárias (talvez nos títulos patrimoniais, ou ações, mas aí já não compreendo a área e não posso afirmar nada concreto a respeito). Agora uma coisa eu posso afirmar, pura e simplesmente como opinião pessoal: se as pessoas vissem o dinheiro apenas como o que são: pedaços de papel, metal, ou códigos binários, e conseguissem ver uns aos outros como iguais talvez o mundo fosse um pouco melhor do que é.

Åndarilho §amurai

Vazio §*

Ninguém disse que seria fácil...
mas nem sempre o caminho mais fácil é o melhor...

§

Nem sempre aquilo que entendemos é o mais certo...
mas nem sempre o mais certo é entender...

§

Nem sempre aquilo que pensamos é realmente verdade...
mas nem sempre pensamos de verdade...

§

Nem sempre um amor é para sempre...
mas nem sempre o que queremos ter pra sempre é amor...

§

Nem sempre uma amizade é totalmente correspondida...
às vezes nem chega a ser realmente compreendida como amizade...

§

Nem sempre os planos dão certo...
mas nem sempre o certo é ter planos...

§

Nem sempre existe uma razão pras coisas acontecerem...
mas tudo sempre tem sua razão de ser...

§

Nem sempre o que queremos é realmente o melhor...
e quando não acontece o que queremos, e acontece o que é melhor, não parece ser o melhor... não por que não seja, mas porque não acreditamos que seja...

§

A desilusão quase sempre traz consigo um vazio...
mas na verdade, o vazio é a verdadeira ilusão.

§

O quê? não sabe o que vem a seguir? Pra onde ir?
O que está por vir não é importante...

§

O que importa é onde estamos agora... o resto é Vazio.

§§§

(*) Este texto encerra a fase de perfis orkutianos de 2004, a partir de agora postarei textos inéditos, talvez com uma freqüência um pouco menor. ;c)

Andarilho §amurai

The Dreamer §



Sonhadores:

Loucos destemidos, que acreditam que tudo podem, mesmo podendo absolutamente nada. E, pior ainda, podem absolutamente nada, e ainda assim conseguem, ninguém sabe como, atingir o inatingível, realizar o inimaginável – por aqueles que não têm a mesma gana de sonhar. E, ainda assim, não se sentem completamente satisfeitos, pois quando alcançam e realizam um sonho, já estão sonhando além.

§

Impossível dissuadi-los, mais ainda tentar fazê-lo, porque não se pode alcançar correndo quem está alçando vôo. Seus opositores – os céticos – bem que tentam, mas não têm como atingi-los. Às vezes um sonhador cai, mas apenas para se reerguer novamente, triunfante no sonho de vitória que vive no seu íntimo.

§

Um sonhador nunca está sozinho, porque sempre acredita naqueles que podem ajudá-lo na realização do sonho. E, mesmo que essas amizades se mostrem falsas, ainda assim, crê que a solidão o acompanha, e então compartilha de sua companhia até encontrar outros companheiros de jornada. O que leva apenas alguns segundos, porque os sonhadores são muitos e se reconhecem facilmente... Alguns céticos tentam se passar por sonhadores, pra tentar se aproximar o suficiente e impedir o sonho, mas nunca conseguem manter a farsa por muito tempo... para os céticos o sonho irrita, incomoda. Não o sonho em si, mas a possibilidade que outros consigam realizar aquilo que eles próprios se julgam incapazes de conseguir.

§

Na verdade, os céticos temem os sonhadores... porque sabem que para conseguir impedi-los precisam alcançá-los, e só é possível alcançar um sonhador dentro dos seus sonhos, porque não existem fora deles... E uma vez dentro do sonho, não há cético que resista sem se tornar também um sonhador.

§

A propósito... Seriam os Deuses... Sonhadores? Pode apostar que sim!

£ight & Darknes§ (04/11/2005)

Positivo e negativo...

Bem e mal....

Certo e errado...

Luz e escuridão...

£§

O universo é feito de dois pólos, e um não existe sem o outro, porque os dois são duas faces de uma mesma energia, não existem separadamente. Viver é estar em um dos lados, ou em ambos, o tempo inteiro oscilando, num fluxo contínuo.

O segredo da vida em harmonia está em não negar um lado em favor do outro, mas aceitar os dois lados, para poder equilibrá-los. É a única maneira de realmente abraçar o universo que existe dentro e fora de nós mesmos, e então compreender o mundo totalmente. Mas é sempre mais fácil escolher somente um lado, e negar o outro...

£§

Imagine o universo como sendo uma moeda sobre uma mesa: duas faces, cara e coroa; dois pólos, positivo e negativo. Agora pegue este universo com as mãos, mas apenas o lado bom, porque ninguém quer o lado ruim pra si, não é mesmo? Então... como pegar apenas uma parte do universo? Impossível. Quando abraçamos o universo, nossa vida, nosso mundo, estamos recebendo-o completo; por mais que queiramos negar, o lado negativo está lá, sempre está.

A solução: pegar a moeda (universo) pelas bordas, ou seja, abraçar ambos os lados de forma igual. Fácil? Nenhum pouco... mais fácil seria pegá-la pelas superfícies maiores, do que por uma borda tão tênue... Agora perceba o seguinte: além de ser extremamente difícil pegar uma moeda pela borda, sem tocar nos dois lados, nos dois pólos, ainda seria possível, imaginando-se o universo como uma moeda sobre uma mesa. Acontece que o universo não está estático, está sempre em movimento, sempre ocorrendo em ciclos infinitos e mais velozes do que o pensamento. Então imagine esta moeda sobre a mesa agora girando, tão rápido que mais parece uma esfera... qual a probabilidade se pegar esta moeda com os dedos, tocando só na sua borda, e não nas duas faces? Impossível? Não... mas extremamente difícil.

£§

Viver em equilíbrio é abraçar o universo em sua plenitude, sem polarizar, mas abraçando e reconhecendo ambos os lados de forma tão igual, que seria impossível o mal prevalecer sobre o bem... e então o bem não precisaria prevalecer sobre o mal, e não existiria conflito. É, de todos os caminhos que se pode escolher, o mais difícil... mas quem disse que seria fácil?

£§

§haman Elemental (21/10/2005)


Minha mente é fogo... incandescente, vivo, eterno. Não há limites que ela não possa ultrapassar, e não há nada que minha mente alcance que não possa ser realizado.

§

Meu corpo é terra... ligado ao planeta, ao mundo físico que me cerca. Desmancha e se refaz a todo instante. Perecível, suscetível à erosão do tempo. Aparentemente limitado, porém quando moldado com água e fogo, e levado pelo ar, constitui uma fortaleza imbatível e impenetrável ao mais forte dos inimigos.

§

Meu coração é água, fluente, maleável, sem forma definida... molda-se a partir de onde estiver... altamente adaptável... pode ser sólido e duro como gelo, ou simplesmente evaporar, dependendo de onde estiver guardado e de como lidarem com ele. Nasce de uma única fonte, mas corre por muitos lugares. É o que molda a terra, fornece o oxigênio do ar, que por sua vez alimenta o fogo.

§

O ar é o sopro da Vida, o fluxo constante de energia que permite que o fogo se alimente, que a água flua, que a terra respire. Sem ar, não há fogo, não há fluxo na água, não há vida na terra.

§

O equilíbrio dos quatro elementos é a chave para o equilíbrio da vida. Dominar fogo, terra, água e ar é ter o controle de si mesmo.

Ausência

(perfil orkutiano publicado em 07/10/2005)

"Na minha vida, só o que permanece é a certeza de jamais ter errado mais do que aprendido".

§

Minha vida ocorre em ciclos, constantemente se refazendo, terminando e recomeçando constantemente, vários ciclos andando juntos, em ritmos diferentes, tantos ciclos simultâneos que minha existência racional mal consegue assimilar um décimo deles...

§

No entanto, aleatoriamente, ocorrem momentos de confluência de ciclos, onde todos, por mais assincrônicos que sejam, convergem sua etapa final em um mesmo momento: a Ausência. Essa ausência, mesmo que ocorra por milésimos de segundos – já que cada ciclo tem seu ritmo próprio, e logo um deles reinicia, encerrando o período de ausência – não passa nunca despercebida...

§

Uma confluência energética é muito mais forte do que todos os ciclos vitais ocorrendo ao mesmo tempo. É esse momento de ausência que me faz perguntar: e agora? Pra onde seguir? E, antes que, nesta bilionésima fração de segundo, eu encontre uma resposta – ou mesmo um sentido em tentar responder a essa pergunta – a ausência passa, mas não totalmente: fica ainda o vazio da questão em aberto... um infinito de possibilidades não previstas. Os ciclos vindouros trarão a resposta...

§

E o Andarilho segue jornada, encerrando seu ciclo orkutiano.. até que um novo ciclo inicie....


Andarilho §amurai

O Adeus do Andarilho

(perfil orkutiano de 30/09/2005)

O tempo está passando...

§ TEMPO: mera ilusão criada pelos homens pra tentar dimensionar e controlar a vida.

§ VIDA: algo que não tem controle, não importa os planos que se faça, sempre acontece algo imprevisto que vira tudo de ponta-cabeça.

§ IMPREVISTOS: previsões não alcançadas pelas pessoas, que estão tão acostumadas a não querer enxergar a vida ao seu redor, que só a percebem quando já é tarde para estarem preparados pra qualquer mudança repentina; acontecimentos que já se prenunciavam há muito tempo, porém não eram vistos ou não se queria reconhecer, até que se torna inevitável.

§ INEVITÁVEL: aquilo que se acredita não ter forças pra mudar.

§ FORÇA: energia muitas vezes confundida com massa muscular, ou capacidade física. Depende muito mais da vontade do que de qualquer coisa, sendo que a maior força da humanidade – e a menos reconhecida como tal - é a sabedoria.

§ SABEDORIA: aprender com cada experiência da vida, e nunca esquecer que, por mais que se tenha aprendido, nunca se deve parar de aprender, e que mesmo que alguém não tenha tanto conhecimento quanto nós, ainda assim pode nos ensinar alguma coisa nova.

§ COISAS NOVAS: memórias de outras caminhadas, que com a distância se apagaram de nossa memória mais imediata.

§ IMEDIATO: aquilo que está aqui, agora, à nossa volta, em nossa consciência.

§ CONSCIÊNCIA: ver as coisas como realmente são, e não como se apresentam ao longo do caminho.

§ CAMINHO: aquele que escolhemos, a cada segundo, a cada passo de nossas vidas.

Não tenho muito a dizer, ainda tenho muito a compreender para que então seja possível expressar algo em palavras. Cada passo da minha caminhada me traz tantas memórias, tantas lições, tantos sentimentos, que mal assimilo o suficiente para poder dar o próximo passo. Parar para tentar compreender tudo isso levaria tantas vidas que provavelmente eu deixaria de ser um andarilho, e me tornaria uma estátua, porque no afã de compreender a vida, acabaria me esquecendo de viver.

Pergunto-me às vezes qual a razão disso tudo, porquê sigo caminhando sem ao menos saber para onde estou indo, ou aonde vou chegar, se é que o objetivo da vida é chegar em algum lugar (provavelmente no dia que alguém finalmente chegar em algum lugar, dificilmente pensará em voltar para contar aos demais, por medo de nunca mais encontrar o caminho).

O que importa dizer agora é que cada pessoa, momento, lição, alegria, tristeza, obstáculo, tropeço, reequilíbrio, retomada, enfim, cada passo dessa jornada é único, assim como cada companheiro de viagem também o é. No entanto, chegam momentos em que é necessário tomar novos rumos, novas trilhas, e nem sempre é possível continuar contando com todos os companheiros de viagem, cada um tem o seu caminho a seguir, sua história pra escrever, ou simplesmente entender, caso não queira compartilhar a jornada. É chegado o momento então de tomar um novo rumo, e por mais que seja triste dizer até logo (sim, até logo, porque não existe adeus, sempre vamos nos encontrar, mais cedo ou mais tarde), um dia quando nos depararmos novamente, um caminhando ao lado do outro, sentiremos a alegria imensa de dizer olá.

Há muito a ser feito, a ser dito, a ser vivido, mas infelizmente as pessoas deixam pra mais tarde, acreditando que sempre haverá tempo para isso depois. Mas o tempo está passando....

Andarilho §amurai

Andarilho §amurai - Ano 30

O apelido de Andarilho surgiu ano passado, a partir da definição de uma amiga, referindo-se ao meu hábito de fazer longas caminhadas. Foi quando resolvi modificar meu perfil do Orkut pela primeira vez, e adotei de vez o pseudônimo, agregando o Samurai (que depois teria sua inicial modificada para §), pela minha identificação com a cultura oriental:

"Apenas um andarilho, perdido pela estrada da vida, conhecendo lugares e pessoas, mas sempre seguindo viagem. É uma caminhada difícil, mas quem disse que seria fácil?"


§§§

Algumas pérolas descobertas pelo caminho:

§ "A experiência nos impede de repetir erros, desde que não nos tornemos arrogantes demais pra admitir que precisamos continuar aprendendo”;

§ "Felicidade é estarmos certos de que estamos onde queremos estar, fazendo o que queremos fazer, e compartilhando isso com quem realmente é importante pra nós. Mas a felicidade não está no lugar onde estamos, nas coisas que fazemos ou nas pessoas com quem compartilhamos: a felicidade está dentro de nós mesmos”.

§ "Não há erro que não traga uma lição, não há fracasso que não traga crescimento, e não há amor que seja impossível, porque o verdadeiro amor independe de reciprocidade".


§§§

Com este texto, publicado hoje no perfil do Orkut, encerra-se a fase textual orkutiana e inicia-se A Jornada do Andarilho §amurai nesta nova casa.


Andarilho §amurai

Construindo o Lar

A partir de Janeiro começarei a postar meus textos, iniciando pelos pensamentos orkutianos, a título de registro público e para que aqueles que gostaram das mensagens que foram compartilhadas por lá possam reler quando quiserem.

Os pensamentos orkutianos de 2005 estão encerrando com o último perfil do ano, inaugurado hoje, com uma reflexão para o novo ciclo que inicia no próximo dia 01.

Abraços a todos que visitarem este espaço, agora ou apartir do próximo ano... até o final do mês não irei postar nada, primeiro preciso construir a casa para depois receber as visitas... mas podem passar pra dizer alô se quiserem ;c)
Ah, e não reparem se encontrarem a casa toda bagunçada... sabe como é, construção leva um tempinho e gera alguma bagunça :cp

Abraços

Andarilho §amurai