Efêmero

Fim de mais um longo dia. Deito na cama, já tarde da noite, e fecho os olhos.

Penso no dia que passou, em todas as correrias, stress, confusões, coisas a resolver...

E jogo tudo pra trás.

Penso no dia que vai começar, seus compromissos, agendas e desafios...

E jogo tudo adiante.

Penso no que restou. O vazio, o silêncio, o frio... de repente, no meio do nada, dos recantos mais longínquos escondidos no fundo de todas as confusões passadas e futuras, ela surge.

Aos poucos a imagem vai se formando, fixando, e se tornando quase palpável na escuridão diante de mim. Seu calor em segundos me envolve, começa a me aquecer. E meu coração acelera.

Acelera porque estou prestes a reconhecê-la; já sei na verdade quem é, mas estou enfim a ponto de vê-la, nitidamente diante de meus olhos, de finalmente reencontrá-la.

E jogo tudo fora.

Rapidamente a imagem desaparece, o frio toma conta, engasgo e começo a tossir, recuperando aos poucos o fôlego que me fora tomado pelo momento. De volta ao frio, ao silêncio e ao vazio que precedem mais um longo dia.

E jogo tudo de novo.

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Sinto muito... nada sinto

Pessoas que sentem demais correm o risco de sentirem de menos... Um turbilhão de emoções pode causar um efeito “olho de furacão”, onde absolutamente nada acontece, mesmo quando tudo gira e vira do avesso ao redor. A indiferença que isso causa faz com que se veja tudo o que acontece, e que outrora fazia algum sentido, parecer fútil e incoerente.

O engraçado é que o vácuo sentimental não é pleno, não há ausência de sentimentos... só uma incompreensão do que esses sentimentos significam; ainda que signifiquem algo para a pessoa, não têm (ou não parecem ter) valor para as pessoas à volta, e então perdem o sentido. E sentir sem sentido ainda é sentir?

O sentido que o coração tem, enquanto músculo que mantém o corpo em funcionamento, faz sentido, e pode ser sentido; quando ele não funciona direito, perde-se o sentido, e o corpo cai. Já o sentido daquele coração que bate fora do corpo, mas faz o corpo pulsar por algo ou alguém, não faz tanto sentido, e nem sempre pode ser sentido... e quando sentido, nem sempre pode ser entendido, e portanto, não se sabe se ele funciona direito ou não... Sem saber se ele está ou não funcionando, não se perde totalmente o sentido, e então o corpo não cai.

Mas alguma coisa cai, seja físico ou não, seja o próprio coração, que não se sabe nem por onde anda (o segundo, que não faz sentido; o outro continua dentro do peito), e quando anda parece que está em um lugar quando na verdade está em outro, ou está em vários lugares, de várias formas. Ou então nem está, se é que algum dia esteve.

O fato é que, independente de existir de fato, de estar em algum lugar ou não, de fazer ou ser sentido, mais cedo ou mais tarde, geralmente quando menos se espera, ele bate.

E então, o corpo cai.

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