Ser complexo

Ser... á?

... que vale a pena dizer a verdade?
... que cabe a sinceridade?
... que é melhor dizer?
... que é melhor saber?

Pessoas juram que sim...
... depois fingem que não.

Pessoas cobram que sim...
... mas nem sempre são.

Pessoas acreditam que dói menos...
... e quando dói, não sabem se tinham razão.

ŧ


Ser... ei?

Às vezes me canso de ser.
A vida nos obriga sempre a ser alguma coisa, ou alguém...
mas quantas vezes nos perguntamos: eu sou realmente quem eu sou?

Penso ser amigo, e me descubro um conhecido, um colega, um alguém.
Penso ser companheiro, e me descubro uma lembrança, um passado.
Penso ser claro, e me descubro mal-entendido.
Penso ser vivo, e me descubro inexistente.

Penso, logo existo... mas consigo existir, como eu penso?

Não sei dizer que sinto o que eu não sinto.
Não sei fingir que não sinto o que sinto.
Não sei perguntar “como vai?” por educação.
Não sei dizer que estou bem só pra ser polido.

Não sei pensar... a não ser como eu existo.

ŧ


Ser... ão?

Sou o tipo de pessoa que está sempre procurando os amigos pra saber onde estão, quando estão, como estão, por que estão, e etc...

e também o tipo de pessoa por quem (quase, sejamos justos...) ninguém procura pra saber onde está, quando está, como está, por que está, e etc.

Às vezes me pergunto... e se eu simplesmente desaparecesse, sem mais nem menos, nunca mais procurasse notícias de ninguém, será que alguém perceberia em menos de... sei lá, três ou quatro semanas? dois ou três meses? alguns anos?

E, se (ou quando) percebessem, quanto tempo levariam pra procurar saber onde, quando, como porquê?

Procurariam, ou não?

Saberiam onde procurar, ou não?

Leriam esse texto, ou não?

Talvez...

(quase, sejamos justos...)

...ninguém.

ŧ

Ser invisível

O melhor de ser invisível, é poder ver além... ser in-visível.

ver além do que as pessoas são, no mundo aparentemente visível,

ver além do que as outras pessoas são capazes, na invisibilidade da aparência.

Ser in-visível não significa necessariamente não ser visto por outros; melhor definição seria ver muito mais do que os outros, ver o que outros certamente não conseguem ver.

Não porque não possuam essa capacidade, simplesmente porque não têm o menor interesse em desenvolvê-la.

Sun Tzu¹ diz, em seus ensinamentos sobre a guerra, que conhecendo a nós mesmos e a nosso inimigo, não devemos temer nenhuma batalha; digo então que se formos suficientemente in-visíveis, não existe então distância entre querer e poder, diferença entre sempre ou nunca...

existe o que de fato existe, e a partir daí tudo é possível.

Åndariho §amurai

¹ TZU, Sun. A Arte da Guerra. Adapt. James Clavell. Trad. José Sanz. 24 ed. Rio de Janeiro: Record, 2001.

Ser humano

Admiro

a sinceridade do olhar
a pureza da alma
o ímpeto por trás da timidez
a timidez que esconde a ousadia
a força bruta que mascara a fraqueza de espírito
a fragilidade aparente que revela a grande força interior
a insensatez da razão
a sabedoria do insensato
a singela lágrima que contém a emoção
o choro incontido que extravaza a frustração
o rubor da face
e todas as cores, tons, vozes, silêncios, toques, distâncias
e até mesmo ausências.

e me sinto

sincero
puro
tímido
ousado
forte
fraco
frágil
insensato
sábio
racional
irracional

e então

me contenho
desabafo
choro
sinto
cheiro
vejo
ouço
toco

ou

fico em silêncio...

ou então

...me ausento.