Sonho eterno de uma alma com esperança

Há muito tempo atrás, um rapaz olhou para o sol e sonhou alcançá-lo. Muitos à sua volta disseram-lhe que era loucura, que um homem não podia chegar ao sol. Mas, ainda assim, ele não desistiu de seu sonho.

Muito tempo passou, até que ele finalmente concretizou seu plano: armações de madeira ligadas aos braços, cobertas por penas de aves coladas com cera, um lugar alto e correntes de vento para amparar seu impulso. E assim, num ímpeto de certeza de poder realizar tudo aquilo que sonhara, lançou-se rumo a seu destino.

O calor do sol aumentava na medida em que ele chegava mais e mais perto de alcançar um sonho. Com o tempo, e com a cera derretendo, ele caiu. Mas a queda foi do homem já realizado, por saber que o sonho não morreria com ele: o sol já havia sido alcançado, na chama que ficou acesa na memória e no coração de outros que o sucederam.

E assim, anos e anos mais tarde, o homem enfim ganhou asas. Cada vez mais velozes, e a cada década mais e mais resistentes, a ponto de chegar não ao sol, mas ao menos de pisar na lua. E o sonho continua, os destinos se ampliam, e quem sabe um dia, depois de marte e saturno, outras galáxias ainda virão. Ainda não vieram na realidade, e até parece loucura aos que nos cercam, mas já existe há muito nos sonhos, não mais de um único homem, mas de vários que hoje acreditam que seja possível.

O limite de um sonhador é a infinidade de sua imaginação. E por mais perecível que seja o seu corpo, sua alma sempre resistirá até o limite de seu sonho. E, sabe aquele homem que um dia caiu? Depois de perder as asas virou um andarilho, e segue caminhando ao encontro do sol. E está quase chegando lá...

Åndarilho §amurai

Climb it!

 
  O risco de escalar uma montanha é certo; são vários os motivos para não fazê-lo, desde a possibilidade de não ter forças para completar a jornada, até pedras que podem cair ou se soltar, na tentativa de nos derrubar. Mas então porquê escalar?

  Superar desafios faz parte da natureza do ser humano. Em determinados momentos de nossos caminhos, nos deparamos com obstáculos a serem superados, muitos deles aparentemente intransponíveis. Mas o ímpeto de vencer, seja para provar a nós mesmos, seja para que outros reconheçam nossa determinação, muitas vezes supera o medo de não chegar lá; outras vezes, no entanto, ficamos sentados na base da montanha, indecisos entre ir e ficar. Ou então paramos no meio do caminho, por não haver meios de prosseguir, não sem encontrar uma forma nova de encarar o paredão à frente, para encontrar aquele nicho que falta pra servir de apoio.

  Outras vezes o apoio vem através de outra pessoa, que já escalou aquele pedaço e conhece alguns caminhos. Mas como saber se a indicação é a correta? Como confiar no conselho de outra pessoa, que pode tanto tentar nos fazer prosseguir quanto pode também nos antecipar uma nova queda? E assim, surgem mais dúvidas e indecisões no caminho.

  Chegar ou não chegar ao topo depende de cada um, seja através de seu próprio esforço, ou de saber quando pedir ajuda. E também da forma de utilizar cada informação recebida, ou como aproveitar cada brecha, caminho ou mesmo obstáculo que encontre. Mas, acima de tudo, ter a consciência de que chegar ao topo importa tanto quanto o caminho que se toma para chegar lá. E a experiência será recompensadora ou não depende da forma como cada um vai valorizar a vista que terá lá de cima. E, principalmente, o quanto aprendeu durante o percurso.

  Åndarilho §amurai

Cosmogonia

   No início, tudo era escuro, vazio, sem graça. Meio lugar comum, sabe? Acordar, passar pelas trivialidades do dia, e depois dormir de novo. Nada de muito interessante. Então, um dia, meio sem querer, eles viram um ao outro. À distância, sem nem mesmo reparar direito. Ambos já existiam antes desse dia, mas simplesmente ignoravam a existência um do outro. Freqüentavam um mesmo espaço, porém distantes um do outro, fisicamente, e por isso demoraram tanto tempo para se conhecerem.

   Durante o dia conversavam, brincavam, riam; ou então, mesmo quando não havia assunto, compartilhavam calados um da presença do outro. E cada vez mais se sentiam ligados, unidos por algo muito maior do que simplesmente uma amizade casual. E perceberam então que, independente do que acontecesse a partir de então, um estaria sempre ali para o outro, havendo ou não necessidade. Ao final da tarde, despediam-se certos do reencontro no dia seguinte; ainda assim, mesmo sem perceber, algumas vezes ele virava a noite, ansiosamente, esperando o momento de reencontrá-la.

   Ele não era um cara solitário, muito pelo contrário. Era até bem apessoado, e tinha uma grande capacidade de inspirar outras pessoas. Admirado por muitos, desprezado por outros tantos, sempre era alvo de olhares aonde quer que aparecesse, e vivia a aconselhar pessoas solitárias ou com problemas a resolver. Ou, calado, tornava-se confidente dessas pessoas, quando buscavam apenas um ombro pra chorar e um desabafo seguro. Também ajudava, aos que recorriam a ele, a conquistarem ou reconciliarem-se com seus pares, e resolverem seus problemas afetivos. Sua criatividade e presença já havia sido motivo de textos, poemas, músicas e diversas outras expressões artísticas. Aliás, arte era o que mais lhe motivava, aquilo do qual ele sentia, mesmo que tivesse percebido somente depois de muito tempo, que ele realmente fazia parte, fossem simples palavras ou complexas imagens, de simples frases a elaboradas metáforas.

   Ela era forte, radiante, e linda, muito linda. Mesmo que ela não conseguisse ver muito disso em si própria, com certeza via à sua volta. Onde quer que estivesse, existia vida, alegria, cores e mais cores. Seu calor e alegria estava presente por onde passasse, e também era fonte de inspiração de muitos. Sua companhia era certa em praias e viagens de férias no verão, ou mesmo algum fim de semana que propiciasse um bom churrasco ao ar livre.

   O que causava admiração de uns, incomodava outros, que preferiam viver à sua sombra, ou diminuir sua capacidade e brilho. Alguns dias mais nebulosos a deixavam meio apagada. Mas mesmo quando algo ou alguém tentava barrar seu caminho, nunca deixava de acreditar que poderia vencer. E quando desanimava, encontrava nele apoio certo, uma vez que, mesmo nunca a tendo visto de perto ou estado junto a ela, conseguia ver como ninguém toda a sua beleza e força.

   Ele também tinha sua luz, mas não o tempo todo. Ficava meio pra baixo algumas vezes, de uma hora pra outra. Mas sabia que eram só fases, e que logo seu ânimo e inspiração voltariam. E ela sempre o ajudava – e muito – a confiar nisso e se reerguer, a maioria das vezes sem precisar dizer nada; só o fato de saber que ela estava lá já o ajudava a crescer novamente.

   Ambos têm histórias muito parecidas, apesar de não serem irmãos. Na verdade não somente parecidas, suas vidas parecem ser meio opostas. Não contrárias, no entanto... são complementares. Ela gosta mais do calor, ele do frio, mas ambos preferem a meia-estação; e muitos outros aspectos de suas vidas se parecem e complementam, e isso fez com que se sentissem cada vez mais próximos um do outro, apesar de fisicamente estarem sempre a uma mesma distância determinada. Às vezes ela viaja, um pouco mais pra longe dele, ou um pouquinho mais para perto, mas ainda assim permanece sempre distante demais para que possam encontrar-se pessoalmente, trocar um abraço ou um beijo. Já ele não, permanece sempre no mesmo lugar, apesar de nunca estar realmente parado. Está sempre andando, mas pelos mesmos caminhos rotineiros aos quais está preso, por responsabilidades das quais não pode se abster. Do contrário, como já disse inúmeras vezes, já teria há muito tempo ido ao encontro dela.

   Ele, apesar de ter alguns amigos, que procuram nele conselhos, apoio ou simplesmente companhia distante, não costumava sair muito, é meio solitário em suas caminhadas, mesmo sabendo que tem amigos próximos. Poucas pessoas chegaram realmente perto dele o suficiente para tocá-lo, mas nenhuma permaneceu por muito tempo, e isso deixou algumas marcas, que o ensinaram a aprender com essas experiências, e sobreviver a elas, sem nunca esquecer que aconteceram, ou a participação que teve nelas. Ela, no entanto, tem alguns amigos ao seu redor, fiéis e companheiros, que ele vê à distância também, e com os quais nunca conversou diretamente. Sabe deles somente através dela, quando ela mostra suas imagens ou menciona seus nomes.

   Ele sempre soube que alguém tão iluminada e bela não poderia existir sozinha, sem ser admirada por todos ao seu redor. Sente um pouco de ciúmes, claro, pois outros têm a proximidade física que ele gostaria de ter. Mas ainda assim sabe que, contanto que ela esteja feliz, ele também estará, mesmo não se sentindo totalmente completo, pois percebeu ao longo desse tempo de relacionamento que muito do que ele é reflete muito do que ela irradia, e que sendo assim, uma parte do que ele é nunca esteve realmente consigo, mora no coração dela.

   O que eles têm e compartilham é muito mais do que ele esperava um dia conhecer, e isso nada ou ninguém poderá diminuir ou roubar deles. Porque ela existe, existe vida ao seu redor; porque ele existe, nada poderá fazer com que ela deixe de brilhar. E enquanto ela brilhar, nada poderá tirar-lhe a força e a inspiração. E, ao redor deles, o mundo gira.

   Seus nomes? Ela: o Sol - Ele: a Lua.

 
   Åndarilho §amurai

Quando o silêncio fala mais alto

  Existem momentos na vida em que uma palavra é demais. Quando nada no mundo pode nos ajudar a entender o porquê da vida parecer tão injusta e nos castigar tanto, quando a maior parte do tempo estamos apenas lutando pra levar nossas vidas o melhor possível, na mera ilusão de assim conquistar um pequeno espaço de conforto interior que possamos chamar de “felicidade”.

  E nesses momentos em que tudo é demais, seja uma palavra, um gesto, um olhar; quando tudo parece conspirar ainda mais ao invés de nos trazer alguma orientação sobre o que essa confusão toda pode significar, só encontramos algum conforto no silêncio da solidão. E, por mais que tentemos nos agarrar a este silêncio e a esta solidão, parece que mesmo a solidão fica gritando nos nossos ouvidos, tentando dizer sei lá o quê – se é que tenta mesmo dizer algo, já que não estamos mesmo querendo ouvir nada...

  Então, quando finalmente cessa a gritaria da solidão, estamos encerrados dentro de nós mesmos, encolhidos onde finalmente nada nem ninguém pode nos perturbar, onde não há palavras, gestos, olhares e expressões que possam nos atingir. E então, por uma fração de segundo, temos uma ínfima sensação de paz.

  Mera ilusão, truque engendrado por nós mesmos, uma armadilha: logo nos damos conta que ainda sobrou alguém a nos olhar, a gesticular e a compartilhar nossa existência. E, antes que possamos esboçar qualquer movimento de fuga, ouvimos outra vez as palavras.

  "Já cansou de fugir? Ou vai continuar ainda? Hum... não esperava mesmo que respondesse alguma coisa... Afinal de contas, não precisa mesmo, porque já está respondendo. Acredito que já tenha percebido que não há lugar pra onde você corra que possa afastá-lo de mim. Só não sei ainda se você entendeu que precisa ouvir o que eu digo".

  "Quando você veio a este mundo, trouxe consigo tudo o que precisava para cumprir sua missão. Porém, para chegar até aqui, foi preciso desenvolver um corpo físico, processo relativamente demorado, do ponto de vista desta dimensão. E as pessoas à sua volta, não percebendo o quanto estava dizendo a elas com o seu silêncio, acreditaram que o seu tamanho e – aparente - fragilidade eram sinais de fraqueza, de necessidade de proteção. Tudo bem, o plano era esse mesmo... do contrário as pessoas seriam indiferentes à sua chegada, e a missão fracassaria mesmo antes de começar. O problema é que este envolvimento a que você submeteu as pessoas à sua volta não funciona em uma única via... e você também se envolveu com elas. O que também fazia parte do plano, afinal, se não houvesse essa troca você não poderia ensinar a elas, ou aprender com elas".

  "E você aprendeu. Mas começou aprendendo que a aparente “fraqueza e fragilidade” eram reais, e esqueceu aquela força que tinha quando chegou. E acreditou que precisava de outros pra te proteger, e que não tinha força para proteger os outros. E pensou que precisava aprender a ter força, e perdeu a força de ensinar... Eu bem que tentei te avisar, gritei até não poder mais que a força estava aqui o tempo todo, junto comigo, você é que a procurava no lugar errado. Mas, infelizmente, o barulho de todos à tua volta era maior – na verdade não maior, mas mais importante, porque acreditavas muito mais nelas – do que a minha. Minha voz estava lá, sempre esteve... mas você não ouvia, ou melhor ainda, fingia não ouvir. E aqui estamos nós".

  "Pois bem, agora que eu tenho toda a tua atenção, quero dizer que não há mais nada a dizer. Pelo menos não de minha parte, uma vez que tudo o que estou dizendo agora só está sendo ouvido porque agora você consegue ver o que eu há muito tempo tento te mostrar. A única coisa que me resta dizer é: ouça mais, e perca menos tempo. Dizem que o tempo é o senhor da razão... mas na verdade o tempo é uma mera ilusão. Ilusão de quem não sabe onde procurar as respostas, ou tem medo de encontrá-las, medo de não ter razão. Então o tempo passa a ser o guardião dela, da razão. Assim nunca se descobrirá de quem era a razão, já que o tempo nunca poderá ser alcançado..."

  "Bem, agora que você já viu que não há tempo, e nem pessoa no mundo que possa esconder a razão o suficiente para que possa fugir da sua própria verdade, encare os fatos: não há nada no mundo que alguém faça ou diga que possa diminuir a tua força, aquela força verdadeira, a que você perdeu há tanto tempo e reluta em procurar no lugar certo. Não desista da tua missão, mesmo não sabendo que missão é essa. Você não sabe, porque eu sei... e isso também faz parte do plano, porque se você soubesse qual é a missão, não poderia cumpri-la corretamente. Mas eu estou aqui justamente pra garantir que você cumpra a sua parte, pois se você não cumprir a sua, eu não terei cumprido a minha".

  "Quem sou eu? Olhe pra mim, sem medo, e saberás. Na verdade já sabes, mesmo não querendo olhar. E se não quiseres me chamar pelo mesmo nome pelo qual todos à tua volta conhecem, podes me chamar de Espelho".

  Åndarilho §amurai

Divagações de Inverno

As pessoas passam a vida inteira procurando algo que preencha um certo vazio interior, uma sensação de deslocamento no tempo-espaço, uma intuição que diz lá no fundo do seu âmago que a vida não pode ser somente isso que se passa aos olhos da maioria conformada. E, quando encontram alguém que parece preencher esse algo que falta, descobre que esse alguém também está procurando algo ou alguém que preencha o seu vazio... mas encontra em outro lugar, em outra pessoa, que também está procurando esse algo mais em outro, e assim todos se perdem num emaranhado sem fim de encontros e desencontros, de disputas de poder e de posse por algo que nem mesmo existe, porque esse vazio é vago, e o que pode preenchê-lo, indefinível.

Pessoas que estão perto muitas vezes estão tão longe que, se fossem se distanciar fisicamente, teriam que sair de órbita (e algumas realmente estão fora de órbita, a maior parte do tempo); pessoas que parecem distantes muitas vezes estão tão próximas que já não se distingue onde começa um e termina o outro; corações são músculos que bombeiam o sangue dentro de cada corpo, mas são fragmentos de um que existem dentro de muitos, e partes de muitos que moram dentro de um; a alma é aquela parte de nós que ouve uma voz ou lê uma mensagem, e já sabe a palavra seguinte antes mesmo de ser escrita ou dita, e sente se o "oi" ou "bom dia" vem acompanhado de sorrisos ou de lágrimas, antes que a conversa comece.

"Diz-me com quem andas, e te direi quem és"? Digo mais, ouso além do senso popular: Sinta aqueles que amas, e saberás quem és, independente do que eu possa te dizer, ou do que o mundo pareça contar.

O vazio é real? Se for não é vazio; e se vazio for, não é sentido. E se não é sentido, não faz parte da vida. Mas mesmo não fazendo parte da vida, pode fazer parte do mundo, assim como muitas outras partes do mundo que são tidas como reais e concretas, mas são tão ou mais vazias do que todo esse discurso, para aqueles que, chegando a este final, acreditarem que acaba aqui.

Andarilho §amurai

Minha vida, minha Bíblia

Minha vida é um livro aberto, escrito em um idioma que só eu entendo. Assim como a Bíblia:
- todos podem ter acesso a ela;
- muitos gostam de falar dela;
- poucos são os que realmente a leram;
- raros os que leram e conseguiram realmente entender algo;
- e, certamente, ninguém ainda conseguiu compreender a totalidade dos seus ensinamentos.

Minha vida também é composta de vários livros, cada um escrito pelo ponto de vista de outras pessoas, e sempre depois da minha morte. Muitas vidas, muitas mortes, muitos livros. E cada pessoa que ouve ou lê o que se escreve em cada um dos livros, conta ou escreve a história novamente, segundo a sua opinião, seu ponto de vista.

Minha vida é escrita originalmente em um idioma há muito esquecido pela civilização, perdido por tantos milênios que eu mesmo quase não consigo mais decifrar... Mas ela também é traduzida em vários idiomas, por várias pessoas, sem, contudo, conseguir preservar a totalidade de sentido que só o idioma original pode transmitir. O que não significa que seja impossível apreender a mensagem a partir de cada tradução. A mensagem está lá, mas somente para quem tiver a mente aberta o suficiente para alcançá-la.

Complicado? De forma alguma... Não é porque o idioma original se perdeu no tempo que ele não pode ser recuperado pela memória... Como encontrar? Mais simples ainda: não procurando.

Åndarilho §amurai

Morpheus

Chamam-me costumeiramente de sonhador, porque ando pela rua mergulhado em pensamentos. Ligo o piloto automático que me guia sempre pelo mesmo caminho, de casa até a faculdade, e simplesmente me desligo do mundo à minha volta. Chego a perder a noção do tempo, imaginando-me em diversas situações, problemas que tenho para resolver, pessoas com quem tenho que falar, coisas rotineiras a fazer. Porém me dou conta que, estando tão desconectado da realidade ao meu redor, quase seria possível afirmar que realmente não faço parte dela, estou literalmente em outro lugar, falando com outras pessoas, fazendo outras coisas, ao invés de estar lá, caminhando pela rua. O que faria de mim não um sonhador, mas um viajante de muitas realidades, todas elas concretas e possíveis.

Se a forma de empreendermos a realidade é através dos nossos sentidos, e esses são percebidos através de impulsos, estímulos neurais no interior de nosso cérebro, então a realidade, o momento em que estamos, o lugar por onde andamos, não é aquele por onde nosso físico percorre, mas aquele por onde nossa mente viaja, pois é nela que se encontra a noção da realidade. Sendo assim, o sonho nada mais seria do que uma viagem, no tempo e no espaço, onde percorremos lugares distantes, passamos horas interagindo com outras pessoas e lugares, no tempo “real” de apenas alguns minutos.

Isto pode parecer ilógico, talvez até provocador demais para aqueles que não se permitem sonhar, e acreditam que existe uma única realidade possível, e um único tempo corrente. Pois bem, mesmo esses céticos, ao menos a maioria deles admitem essa possibilidade, ao acreditarem na figura onipotente e onipresente de Deus. Ora, quem seria Deus senão a representação de um sonhador? Onipotentes, no momento em que realiza tudo aquilo que quiser realizar, e ao mesmo tempo se quiser, usando somente a força de um pensamento; onipresentes, existindo em várias realidades, vários lugares, várias épocas ao mesmo tempo, sem nem ao menos precisar sair do lugar. E não dizem, e mais ainda, acreditam, que Deus é tudo o que existe? Bom, já dizia o filósofo na antiguidade: penso, logo existo. Mas enquanto ser humano, limitado. No entanto, no momento em que sonho, existo de forma onipotente, onipresente, então existo não como ser humano, mas como Deus.

Isto poderia soar como uma intenção um tanto quanto presunçosa de me dizer melhor do que as pessoas ao meu redor, no entanto a própria religião pode ser usada como resposta, quando diz “ama ao teu próximo como a ti mesmo”. Ou seja, tenho consciência de que assim como sou um sonhador, também todas as pessoas o são, mesmo aquelas mais céticas se entregam inconscientemente ao sonho quando dormem, e que ao acordarem recusam-se a lembrar disso.

(texto escrito no semestre passado, para a cadeira de Comunicação em Língua Portuguesa III da faculdade)

Åndarilho §amurai

Um Sonho de Liberdade*

Nunca fui um papagaio muito emotivo, ou de muitas ambições, até alguns meses atrás, antes de minha morte. Era conhecido por ter as mais belas penas do viveiro onde nasci, e tinha muito orgulho disso. Lembro que o ancião do viveiro sempre dizia que muito em breve eu sairia dali, e iria pra algum lugar com muito espaço, comida farta, um poleiro novinho e viveria feliz. E, finalmente chegou o dia: uma mulher veio, olhou o viveiro inteiro, depois pra mim e disse: “Aquele ali”. E foi então que iniciei o que pensava ser uma jornada rumo a uma vida feliz em liberdade, sem imaginar que estava embarcando rumo ao meu destino final.

Lembro da primeira vez que vi minha dona: olhei pelo buraco da caixa de papelão e vi uma menina magra, aparentemente meiga, toda arrumadinha. Ela abriu a tampa da caixa e vi seu olhar, por trás daqueles óculos, fundo de garrafa, perder o brilho rapidamente. “Isto é um papagaio!" – gritou ela – “Eu quero um cachorro!”. “Bruninha, eu já te falei que cachorro eu não compro” – respondeu a mulher que me trouxera do viveiro, dirigindo-se à porta. “Além de ser alérgica a pêlos, nós moramos no décimo andar. Estou saindo pro trabalho, até a noite!”. Em protesto, a menina arrancou-me uma pena da cauda. Bateu o pé, choramingou, e subiu para o seu quarto, me sufocando em seus braços. Já havia perdido a esperança de um futuro feliz com sombra e água fresca, mas o pesadelo mesmo começou quando ela me atirou em uma gaiola apertada e suja, e gritou: “Você é um cachorro, e vai se chamar Rex!”.

Daquele dia em diante, iniciou-se uma torturante rotina de passeios diurnos guiado por uma coleira, uma tigela de ração e outra de água por dia, e muitas, muitas penas arrancadas, na esperança de que um dia, talvez nascesse algum pêlo em meu corpo. Mas o mais humilhante de tudo, foi a tentativa de adestramento. Andar, parar, deitar, rolar, fingir de morto, como entender aquilo tudo? Ao ouvir cada ordem, cada comando, a única coisa que eu conseguia, ou mesmo sabia fazer, era repeti-las, o que fazia com que ela tivesse grandes acessos de raiva. E, então, mais penas arrancadas.

Acabei aprendendo a gostar da ração, já nem sentia mais as poucas penas restantes serem arrancadas, e os passeios diários eram a única coisa que realmente que ainda me causava algum sentimento, davam-me esperanças de um dia conseguir me desvencilhar daquilo tudo e conquistar a tão sonhada liberdade. A chance finalmente surgiu quando, um dia, ela colocou a gaiola em cima da mesa, para trocar a água e colocar minha coleira pra passear, como de costume. Demorei um bom tempo pra entender aquela sensação que tomou conta de mim, alguma coisa estava diferente, mas não conseguia perceber o quê, até que me dei conta que o barulho dos carros estava mais alto do que de costume. A janela aberta, bem ao lado da mesa! Pela primeira vez pude ver nitidamente, sem aquele vidro escuro fechado, a luz do sol invadindo a gaiola, as árvores balançando ao vento, o som de pessoas e de trânsito lá embaixo. Era minha chance, não podia perdê-la de jeito nenhum! Respirei fundo, e esperei.

Foi então que ela, como esperado, abriu a portinhola para colocar a tigelinha de água, e me pegar pra mais um passeio matinal. Súbito, dei-lhe uma bicada na mão, que a fez pular pra trás e gritar. Saí da gaiola e me pus a correr em direção à janela, ganhando mais e mais velocidade, até saltar, asas abertas, finalmente livre, sentindo o vento nas... Penas!!

O ímpeto de me libertar daquela prisão não me permitiu perceber que já havia me acostumado tanto às penas arrancadas, que esqueci completamente de uma das funções básicas delas: me permitir voar. Enfim, a liberdade veio, não através do grande céu aberto, mas de outra prisão, muito breve, entre o asfalto e o pneu de um veículo qualquer. Livre da gaiola, e do corpo castigado, pude finalmente encontrar a paz.

ŧ

(*) Texto escrito em conjunto com os colegas Ariane Rauber, Mauricio Thomsem e Vivian Dal’Alba, trabalho da cadeira de Português III da facul, a partir de personagens criados por Wesley Kuhn, Mayara Bortolotto e Lucas Ladwig:

"Uma criança que foi mimada demasiadamente pelos pais. Egoísta, chorona e rica, não poupa esforços para conseguir o que deseja. É muito magra, e usa óculos “fundo de garrafão”. É muito chata, e por isso não tem amigos, só um papagaio. Não tem irmãos, seu pai morreu e sua mãe passa muito tempo fora de casa e, para compensar isso, enche a criança de presentes. Nome da criança: Bruna"

Ouro de Tolo

Meses atrás, conversando com uma amiga, deparei-me com a seguinte declaração: “se os homens fossem dinheiro, o mundo estaria cheio de notas falsas...”. Imediatamente rebati a sentença dizendo: “haveria algumas notas verdadeiras por aí... só que ainda assim seriam apenas pedaços de papel...”.

Nunca tinha relacionado dinheiro e pessoas desta forma, e apesar de serem coisas à primeira vista totalmente distintas, pode-se fazer um paralelo interessante a respeito. Foi o que descobri logo após a conversa com minha amiga, quando parei e comecei a refletir a respeito destas duas afirmações acidentais.

Analisando isoladamente cada um, encontramos diferenças óbvias, afinal pessoas são seres vivos, e não objetos, como o dinheiro; são orgânicos, respiram, se movem e etc., ao contrário, obviamente, do dinheiro. E são diferentes entre si nos seus muitos detalhes, como cor de cabelos, de olhos, estatura e até DNA, enquanto com o dinheiro não há diferença entre moedas e cédulas de mesmo valor, são todas iguais em tamanho, forma e cor - com exceção da numeração de série, no caso das cédulas.

Mas tudo bem, encontrar diferenças entre dinheiro e pessoas é até simples, mas o quê exatamente haveria de semelhante entre eles? Bom, eu poderia dizer que as pessoas falam, mas muitas vezes o dinheiro fala mais alto; pessoas pensam, mas muitas vezes quem decide a questão é o dinheiro, só que seguindo esta lógica de raciocínio eu seria imediatamente refutado, por estar utilizando figuras de linguagem que somente tomadas ao pé da letra poderiam atribuir semelhança. Então como encontrar semelhanças entre dinheiro e pessoas sem recorrer a trocadilhos e metáforas? A conclusão a que cheguei, concordem vocês comigo ou não, é simples e ao mesmo tempo complexa: convenção social.

Analisando sob este aspecto, tanto o valor do dinheiro quanto das pessoas é convencionado socialmente, e esta convenção em ambos os casos vêm se modificando no decorrer da história. Mas vamos nos ater ao momento atual, porque fazer uma análise histórico-evolutiva minuciosa seria um tanto demorado e cansativo.

O dinheiro surgiu como uma forma de equalizar as relações comerciais entre diferentes países ou sociedades, como forma de evitar conflitos. Inicialmente este valor de troca era algum produto, como o sal, por exemplo, e ao longo da história chegamos às atuais moedas, de papel, metal, e ainda com o avanço das tecnologias, o dinheiro eletrônico. Olhando mais de perto cada um deles, não passam de papel, metal fundido e cunhado, e códigos binários numa rede de informação; o que faz com que tenham relevância em transações comerciais é a sua convenção social, ou seja, as pessoas determinaram que aquela rodinha de metal fundido com um número 1 cunhado no meio dela vale 1 unidade monetária, que aquele papel colorido com um número 10 desenhado nele vale 10 unidades monetárias, que aquele código binário que resulta em uma seqüência numérica, por exemplo, de 1 seguido de 6 zeros, equivale a um milhão de unidades monetárias (provavelmente da conta bancária de algum político...).

Já as pessoas têm seu valor, ou status, também convencionado pela sociedade. A própria sociedade, em si, é uma organização convencionada pelas pessoas para que possam coexistir sem maiores conflitos. No decorrer da história, algumas pessoas chegaram a serem usadas inclusive como moeda de troca, como os escravos, por exemplo, e somente os homens tinham valor na sociedade, eram considerados como pessoas, ou cidadãos. Mais tarde – bem mais tarde – as mulheres conseguiram provar que eram tão (ou até mais) valiosas na sociedade quanto os homens, e conseguiram também ter o seu reconhecimento social, apesar de ainda hoje, em muitas áreas este valor da mulher ficar ainda abaixo do valor dos homens. E, com o advento da tecnologia, surgiram também as pessoas virtuais, seqüências de códigos binários que representam pessoas e são aceitas socialmente como tal. Hoje em dia, muitas pessoas fazem parte de sites de grupos virtuais, como orkut, gazaag ou outros, e neles criam sua personalidade virtual, sua convenção eletrônica, que muitas vezes não tem absolutamente nada a ver com a versão física, e para as outras pessoas que não as conhecem pessoalmente, o valorizado é o amigo eletrônico, e não a pessoa real.

E o mais sinistro: muitas pessoas também passam a colecionar amigos virtuais, adicionando e pedindo pra serem adicionados por outras pessoas com as quais não têm o menos envolvimento ou contato, apenas para engordar a sua conta de amigos virtuais, e poder dizer que tem não sei quantos mil amigos, sendo que não sabe nem o nome de cada um deles. É mais ou menos como uma conta bancária de amigos: assim como o dinheiro, eu não tenho contato com as moedas, mas sei que elas estão virtualmente no meu banco. Se um dia eu precisar, eu vou lá e resgato; já no site, eu não tenho o menor contato com aqueles amigos, mas se um dia eu precisar, posso buscar alguém lá pra conversar. A diferença é que, desde que eu tenha saldo na conta, o dinheiro nunca vai se negar a ser gasto, já no caso das pessoas nem sempre eu vou encontrá-las disponíveis pra me ajudar.

Infelizmente essa semelhança entre dinheiro e pessoas não se restringe ao mundo virtual, no que diz respeito à depreciação de valor. Assim como existem moedas de diferentes valores, também as pessoas têm mais ou menos valor social, o que é chamado de status. Há aqueles considerados importantes, inacessíveis ao homem comum, como as notas de 100, que a gente sabe que existe mas se viu ao vivo foi uma, no máximo duas vezes na vida. Há o cidadão comum, classe média, que circula todos os dias por aí, e todos estão acostumados a ver e lidar todo dia, como as notas de 50, de 10, de 5... e tem também aquelas pessoas que são menos importantes na escala, que existem aos montes por aí, e quase ninguém repara. Alguns estão rasgados, amassados, sujos, como as notas de 1, outros a gente simplesmente passa por cima, quase não dá importância, como os centavos.

Alguns podem não concordar com essa minha análise comparativa, inclusive alegando que essa convenção social com relação às pessoas não se dá somente no âmbito da convivência, mas também existem laços de afinidade e relações de parentesco que atribuem valor às pessoas, o que não ocorre no caso do dinheiro. Bom, de certa forma sim, já que o amor de uma mãe por seu filho não pode ser comparado desta forma, mas o respeito entre membros de uma mesma família, as relações de obediência, de não procriação entre parentes próximos, são padrões convencionados socialmente também, mesmo que não encontrem seus similares nas convenções monetárias (talvez nos títulos patrimoniais, ou ações, mas aí já não compreendo a área e não posso afirmar nada concreto a respeito). Agora uma coisa eu posso afirmar, pura e simplesmente como opinião pessoal: se as pessoas vissem o dinheiro apenas como o que são: pedaços de papel, metal, ou códigos binários, e conseguissem ver uns aos outros como iguais talvez o mundo fosse um pouco melhor do que é.

Åndarilho §amurai

Vazio §*

Ninguém disse que seria fácil...
mas nem sempre o caminho mais fácil é o melhor...

§

Nem sempre aquilo que entendemos é o mais certo...
mas nem sempre o mais certo é entender...

§

Nem sempre aquilo que pensamos é realmente verdade...
mas nem sempre pensamos de verdade...

§

Nem sempre um amor é para sempre...
mas nem sempre o que queremos ter pra sempre é amor...

§

Nem sempre uma amizade é totalmente correspondida...
às vezes nem chega a ser realmente compreendida como amizade...

§

Nem sempre os planos dão certo...
mas nem sempre o certo é ter planos...

§

Nem sempre existe uma razão pras coisas acontecerem...
mas tudo sempre tem sua razão de ser...

§

Nem sempre o que queremos é realmente o melhor...
e quando não acontece o que queremos, e acontece o que é melhor, não parece ser o melhor... não por que não seja, mas porque não acreditamos que seja...

§

A desilusão quase sempre traz consigo um vazio...
mas na verdade, o vazio é a verdadeira ilusão.

§

O quê? não sabe o que vem a seguir? Pra onde ir?
O que está por vir não é importante...

§

O que importa é onde estamos agora... o resto é Vazio.

§§§

(*) Este texto encerra a fase de perfis orkutianos de 2004, a partir de agora postarei textos inéditos, talvez com uma freqüência um pouco menor. ;c)

Andarilho §amurai

The Dreamer §



Sonhadores:

Loucos destemidos, que acreditam que tudo podem, mesmo podendo absolutamente nada. E, pior ainda, podem absolutamente nada, e ainda assim conseguem, ninguém sabe como, atingir o inatingível, realizar o inimaginável – por aqueles que não têm a mesma gana de sonhar. E, ainda assim, não se sentem completamente satisfeitos, pois quando alcançam e realizam um sonho, já estão sonhando além.

§

Impossível dissuadi-los, mais ainda tentar fazê-lo, porque não se pode alcançar correndo quem está alçando vôo. Seus opositores – os céticos – bem que tentam, mas não têm como atingi-los. Às vezes um sonhador cai, mas apenas para se reerguer novamente, triunfante no sonho de vitória que vive no seu íntimo.

§

Um sonhador nunca está sozinho, porque sempre acredita naqueles que podem ajudá-lo na realização do sonho. E, mesmo que essas amizades se mostrem falsas, ainda assim, crê que a solidão o acompanha, e então compartilha de sua companhia até encontrar outros companheiros de jornada. O que leva apenas alguns segundos, porque os sonhadores são muitos e se reconhecem facilmente... Alguns céticos tentam se passar por sonhadores, pra tentar se aproximar o suficiente e impedir o sonho, mas nunca conseguem manter a farsa por muito tempo... para os céticos o sonho irrita, incomoda. Não o sonho em si, mas a possibilidade que outros consigam realizar aquilo que eles próprios se julgam incapazes de conseguir.

§

Na verdade, os céticos temem os sonhadores... porque sabem que para conseguir impedi-los precisam alcançá-los, e só é possível alcançar um sonhador dentro dos seus sonhos, porque não existem fora deles... E uma vez dentro do sonho, não há cético que resista sem se tornar também um sonhador.

§

A propósito... Seriam os Deuses... Sonhadores? Pode apostar que sim!

£ight & Darknes§ (04/11/2005)

Positivo e negativo...

Bem e mal....

Certo e errado...

Luz e escuridão...

£§

O universo é feito de dois pólos, e um não existe sem o outro, porque os dois são duas faces de uma mesma energia, não existem separadamente. Viver é estar em um dos lados, ou em ambos, o tempo inteiro oscilando, num fluxo contínuo.

O segredo da vida em harmonia está em não negar um lado em favor do outro, mas aceitar os dois lados, para poder equilibrá-los. É a única maneira de realmente abraçar o universo que existe dentro e fora de nós mesmos, e então compreender o mundo totalmente. Mas é sempre mais fácil escolher somente um lado, e negar o outro...

£§

Imagine o universo como sendo uma moeda sobre uma mesa: duas faces, cara e coroa; dois pólos, positivo e negativo. Agora pegue este universo com as mãos, mas apenas o lado bom, porque ninguém quer o lado ruim pra si, não é mesmo? Então... como pegar apenas uma parte do universo? Impossível. Quando abraçamos o universo, nossa vida, nosso mundo, estamos recebendo-o completo; por mais que queiramos negar, o lado negativo está lá, sempre está.

A solução: pegar a moeda (universo) pelas bordas, ou seja, abraçar ambos os lados de forma igual. Fácil? Nenhum pouco... mais fácil seria pegá-la pelas superfícies maiores, do que por uma borda tão tênue... Agora perceba o seguinte: além de ser extremamente difícil pegar uma moeda pela borda, sem tocar nos dois lados, nos dois pólos, ainda seria possível, imaginando-se o universo como uma moeda sobre uma mesa. Acontece que o universo não está estático, está sempre em movimento, sempre ocorrendo em ciclos infinitos e mais velozes do que o pensamento. Então imagine esta moeda sobre a mesa agora girando, tão rápido que mais parece uma esfera... qual a probabilidade se pegar esta moeda com os dedos, tocando só na sua borda, e não nas duas faces? Impossível? Não... mas extremamente difícil.

£§

Viver em equilíbrio é abraçar o universo em sua plenitude, sem polarizar, mas abraçando e reconhecendo ambos os lados de forma tão igual, que seria impossível o mal prevalecer sobre o bem... e então o bem não precisaria prevalecer sobre o mal, e não existiria conflito. É, de todos os caminhos que se pode escolher, o mais difícil... mas quem disse que seria fácil?

£§

§haman Elemental (21/10/2005)


Minha mente é fogo... incandescente, vivo, eterno. Não há limites que ela não possa ultrapassar, e não há nada que minha mente alcance que não possa ser realizado.

§

Meu corpo é terra... ligado ao planeta, ao mundo físico que me cerca. Desmancha e se refaz a todo instante. Perecível, suscetível à erosão do tempo. Aparentemente limitado, porém quando moldado com água e fogo, e levado pelo ar, constitui uma fortaleza imbatível e impenetrável ao mais forte dos inimigos.

§

Meu coração é água, fluente, maleável, sem forma definida... molda-se a partir de onde estiver... altamente adaptável... pode ser sólido e duro como gelo, ou simplesmente evaporar, dependendo de onde estiver guardado e de como lidarem com ele. Nasce de uma única fonte, mas corre por muitos lugares. É o que molda a terra, fornece o oxigênio do ar, que por sua vez alimenta o fogo.

§

O ar é o sopro da Vida, o fluxo constante de energia que permite que o fogo se alimente, que a água flua, que a terra respire. Sem ar, não há fogo, não há fluxo na água, não há vida na terra.

§

O equilíbrio dos quatro elementos é a chave para o equilíbrio da vida. Dominar fogo, terra, água e ar é ter o controle de si mesmo.

Ausência

(perfil orkutiano publicado em 07/10/2005)

"Na minha vida, só o que permanece é a certeza de jamais ter errado mais do que aprendido".

§

Minha vida ocorre em ciclos, constantemente se refazendo, terminando e recomeçando constantemente, vários ciclos andando juntos, em ritmos diferentes, tantos ciclos simultâneos que minha existência racional mal consegue assimilar um décimo deles...

§

No entanto, aleatoriamente, ocorrem momentos de confluência de ciclos, onde todos, por mais assincrônicos que sejam, convergem sua etapa final em um mesmo momento: a Ausência. Essa ausência, mesmo que ocorra por milésimos de segundos – já que cada ciclo tem seu ritmo próprio, e logo um deles reinicia, encerrando o período de ausência – não passa nunca despercebida...

§

Uma confluência energética é muito mais forte do que todos os ciclos vitais ocorrendo ao mesmo tempo. É esse momento de ausência que me faz perguntar: e agora? Pra onde seguir? E, antes que, nesta bilionésima fração de segundo, eu encontre uma resposta – ou mesmo um sentido em tentar responder a essa pergunta – a ausência passa, mas não totalmente: fica ainda o vazio da questão em aberto... um infinito de possibilidades não previstas. Os ciclos vindouros trarão a resposta...

§

E o Andarilho segue jornada, encerrando seu ciclo orkutiano.. até que um novo ciclo inicie....


Andarilho §amurai

O Adeus do Andarilho

(perfil orkutiano de 30/09/2005)

O tempo está passando...

§ TEMPO: mera ilusão criada pelos homens pra tentar dimensionar e controlar a vida.

§ VIDA: algo que não tem controle, não importa os planos que se faça, sempre acontece algo imprevisto que vira tudo de ponta-cabeça.

§ IMPREVISTOS: previsões não alcançadas pelas pessoas, que estão tão acostumadas a não querer enxergar a vida ao seu redor, que só a percebem quando já é tarde para estarem preparados pra qualquer mudança repentina; acontecimentos que já se prenunciavam há muito tempo, porém não eram vistos ou não se queria reconhecer, até que se torna inevitável.

§ INEVITÁVEL: aquilo que se acredita não ter forças pra mudar.

§ FORÇA: energia muitas vezes confundida com massa muscular, ou capacidade física. Depende muito mais da vontade do que de qualquer coisa, sendo que a maior força da humanidade – e a menos reconhecida como tal - é a sabedoria.

§ SABEDORIA: aprender com cada experiência da vida, e nunca esquecer que, por mais que se tenha aprendido, nunca se deve parar de aprender, e que mesmo que alguém não tenha tanto conhecimento quanto nós, ainda assim pode nos ensinar alguma coisa nova.

§ COISAS NOVAS: memórias de outras caminhadas, que com a distância se apagaram de nossa memória mais imediata.

§ IMEDIATO: aquilo que está aqui, agora, à nossa volta, em nossa consciência.

§ CONSCIÊNCIA: ver as coisas como realmente são, e não como se apresentam ao longo do caminho.

§ CAMINHO: aquele que escolhemos, a cada segundo, a cada passo de nossas vidas.

Não tenho muito a dizer, ainda tenho muito a compreender para que então seja possível expressar algo em palavras. Cada passo da minha caminhada me traz tantas memórias, tantas lições, tantos sentimentos, que mal assimilo o suficiente para poder dar o próximo passo. Parar para tentar compreender tudo isso levaria tantas vidas que provavelmente eu deixaria de ser um andarilho, e me tornaria uma estátua, porque no afã de compreender a vida, acabaria me esquecendo de viver.

Pergunto-me às vezes qual a razão disso tudo, porquê sigo caminhando sem ao menos saber para onde estou indo, ou aonde vou chegar, se é que o objetivo da vida é chegar em algum lugar (provavelmente no dia que alguém finalmente chegar em algum lugar, dificilmente pensará em voltar para contar aos demais, por medo de nunca mais encontrar o caminho).

O que importa dizer agora é que cada pessoa, momento, lição, alegria, tristeza, obstáculo, tropeço, reequilíbrio, retomada, enfim, cada passo dessa jornada é único, assim como cada companheiro de viagem também o é. No entanto, chegam momentos em que é necessário tomar novos rumos, novas trilhas, e nem sempre é possível continuar contando com todos os companheiros de viagem, cada um tem o seu caminho a seguir, sua história pra escrever, ou simplesmente entender, caso não queira compartilhar a jornada. É chegado o momento então de tomar um novo rumo, e por mais que seja triste dizer até logo (sim, até logo, porque não existe adeus, sempre vamos nos encontrar, mais cedo ou mais tarde), um dia quando nos depararmos novamente, um caminhando ao lado do outro, sentiremos a alegria imensa de dizer olá.

Há muito a ser feito, a ser dito, a ser vivido, mas infelizmente as pessoas deixam pra mais tarde, acreditando que sempre haverá tempo para isso depois. Mas o tempo está passando....

Andarilho §amurai

Andarilho §amurai - Ano 30

O apelido de Andarilho surgiu ano passado, a partir da definição de uma amiga, referindo-se ao meu hábito de fazer longas caminhadas. Foi quando resolvi modificar meu perfil do Orkut pela primeira vez, e adotei de vez o pseudônimo, agregando o Samurai (que depois teria sua inicial modificada para §), pela minha identificação com a cultura oriental:

"Apenas um andarilho, perdido pela estrada da vida, conhecendo lugares e pessoas, mas sempre seguindo viagem. É uma caminhada difícil, mas quem disse que seria fácil?"


§§§

Algumas pérolas descobertas pelo caminho:

§ "A experiência nos impede de repetir erros, desde que não nos tornemos arrogantes demais pra admitir que precisamos continuar aprendendo”;

§ "Felicidade é estarmos certos de que estamos onde queremos estar, fazendo o que queremos fazer, e compartilhando isso com quem realmente é importante pra nós. Mas a felicidade não está no lugar onde estamos, nas coisas que fazemos ou nas pessoas com quem compartilhamos: a felicidade está dentro de nós mesmos”.

§ "Não há erro que não traga uma lição, não há fracasso que não traga crescimento, e não há amor que seja impossível, porque o verdadeiro amor independe de reciprocidade".


§§§

Com este texto, publicado hoje no perfil do Orkut, encerra-se a fase textual orkutiana e inicia-se A Jornada do Andarilho §amurai nesta nova casa.


Andarilho §amurai