Ouro de Tolo

Meses atrás, conversando com uma amiga, deparei-me com a seguinte declaração: “se os homens fossem dinheiro, o mundo estaria cheio de notas falsas...”. Imediatamente rebati a sentença dizendo: “haveria algumas notas verdadeiras por aí... só que ainda assim seriam apenas pedaços de papel...”.

Nunca tinha relacionado dinheiro e pessoas desta forma, e apesar de serem coisas à primeira vista totalmente distintas, pode-se fazer um paralelo interessante a respeito. Foi o que descobri logo após a conversa com minha amiga, quando parei e comecei a refletir a respeito destas duas afirmações acidentais.

Analisando isoladamente cada um, encontramos diferenças óbvias, afinal pessoas são seres vivos, e não objetos, como o dinheiro; são orgânicos, respiram, se movem e etc., ao contrário, obviamente, do dinheiro. E são diferentes entre si nos seus muitos detalhes, como cor de cabelos, de olhos, estatura e até DNA, enquanto com o dinheiro não há diferença entre moedas e cédulas de mesmo valor, são todas iguais em tamanho, forma e cor - com exceção da numeração de série, no caso das cédulas.

Mas tudo bem, encontrar diferenças entre dinheiro e pessoas é até simples, mas o quê exatamente haveria de semelhante entre eles? Bom, eu poderia dizer que as pessoas falam, mas muitas vezes o dinheiro fala mais alto; pessoas pensam, mas muitas vezes quem decide a questão é o dinheiro, só que seguindo esta lógica de raciocínio eu seria imediatamente refutado, por estar utilizando figuras de linguagem que somente tomadas ao pé da letra poderiam atribuir semelhança. Então como encontrar semelhanças entre dinheiro e pessoas sem recorrer a trocadilhos e metáforas? A conclusão a que cheguei, concordem vocês comigo ou não, é simples e ao mesmo tempo complexa: convenção social.

Analisando sob este aspecto, tanto o valor do dinheiro quanto das pessoas é convencionado socialmente, e esta convenção em ambos os casos vêm se modificando no decorrer da história. Mas vamos nos ater ao momento atual, porque fazer uma análise histórico-evolutiva minuciosa seria um tanto demorado e cansativo.

O dinheiro surgiu como uma forma de equalizar as relações comerciais entre diferentes países ou sociedades, como forma de evitar conflitos. Inicialmente este valor de troca era algum produto, como o sal, por exemplo, e ao longo da história chegamos às atuais moedas, de papel, metal, e ainda com o avanço das tecnologias, o dinheiro eletrônico. Olhando mais de perto cada um deles, não passam de papel, metal fundido e cunhado, e códigos binários numa rede de informação; o que faz com que tenham relevância em transações comerciais é a sua convenção social, ou seja, as pessoas determinaram que aquela rodinha de metal fundido com um número 1 cunhado no meio dela vale 1 unidade monetária, que aquele papel colorido com um número 10 desenhado nele vale 10 unidades monetárias, que aquele código binário que resulta em uma seqüência numérica, por exemplo, de 1 seguido de 6 zeros, equivale a um milhão de unidades monetárias (provavelmente da conta bancária de algum político...).

Já as pessoas têm seu valor, ou status, também convencionado pela sociedade. A própria sociedade, em si, é uma organização convencionada pelas pessoas para que possam coexistir sem maiores conflitos. No decorrer da história, algumas pessoas chegaram a serem usadas inclusive como moeda de troca, como os escravos, por exemplo, e somente os homens tinham valor na sociedade, eram considerados como pessoas, ou cidadãos. Mais tarde – bem mais tarde – as mulheres conseguiram provar que eram tão (ou até mais) valiosas na sociedade quanto os homens, e conseguiram também ter o seu reconhecimento social, apesar de ainda hoje, em muitas áreas este valor da mulher ficar ainda abaixo do valor dos homens. E, com o advento da tecnologia, surgiram também as pessoas virtuais, seqüências de códigos binários que representam pessoas e são aceitas socialmente como tal. Hoje em dia, muitas pessoas fazem parte de sites de grupos virtuais, como orkut, gazaag ou outros, e neles criam sua personalidade virtual, sua convenção eletrônica, que muitas vezes não tem absolutamente nada a ver com a versão física, e para as outras pessoas que não as conhecem pessoalmente, o valorizado é o amigo eletrônico, e não a pessoa real.

E o mais sinistro: muitas pessoas também passam a colecionar amigos virtuais, adicionando e pedindo pra serem adicionados por outras pessoas com as quais não têm o menos envolvimento ou contato, apenas para engordar a sua conta de amigos virtuais, e poder dizer que tem não sei quantos mil amigos, sendo que não sabe nem o nome de cada um deles. É mais ou menos como uma conta bancária de amigos: assim como o dinheiro, eu não tenho contato com as moedas, mas sei que elas estão virtualmente no meu banco. Se um dia eu precisar, eu vou lá e resgato; já no site, eu não tenho o menor contato com aqueles amigos, mas se um dia eu precisar, posso buscar alguém lá pra conversar. A diferença é que, desde que eu tenha saldo na conta, o dinheiro nunca vai se negar a ser gasto, já no caso das pessoas nem sempre eu vou encontrá-las disponíveis pra me ajudar.

Infelizmente essa semelhança entre dinheiro e pessoas não se restringe ao mundo virtual, no que diz respeito à depreciação de valor. Assim como existem moedas de diferentes valores, também as pessoas têm mais ou menos valor social, o que é chamado de status. Há aqueles considerados importantes, inacessíveis ao homem comum, como as notas de 100, que a gente sabe que existe mas se viu ao vivo foi uma, no máximo duas vezes na vida. Há o cidadão comum, classe média, que circula todos os dias por aí, e todos estão acostumados a ver e lidar todo dia, como as notas de 50, de 10, de 5... e tem também aquelas pessoas que são menos importantes na escala, que existem aos montes por aí, e quase ninguém repara. Alguns estão rasgados, amassados, sujos, como as notas de 1, outros a gente simplesmente passa por cima, quase não dá importância, como os centavos.

Alguns podem não concordar com essa minha análise comparativa, inclusive alegando que essa convenção social com relação às pessoas não se dá somente no âmbito da convivência, mas também existem laços de afinidade e relações de parentesco que atribuem valor às pessoas, o que não ocorre no caso do dinheiro. Bom, de certa forma sim, já que o amor de uma mãe por seu filho não pode ser comparado desta forma, mas o respeito entre membros de uma mesma família, as relações de obediência, de não procriação entre parentes próximos, são padrões convencionados socialmente também, mesmo que não encontrem seus similares nas convenções monetárias (talvez nos títulos patrimoniais, ou ações, mas aí já não compreendo a área e não posso afirmar nada concreto a respeito). Agora uma coisa eu posso afirmar, pura e simplesmente como opinião pessoal: se as pessoas vissem o dinheiro apenas como o que são: pedaços de papel, metal, ou códigos binários, e conseguissem ver uns aos outros como iguais talvez o mundo fosse um pouco melhor do que é.

Åndarilho §amurai

Um comentário:

Anônimo disse...

Oiiiiiii!
Muito interessante a comparação de valores entre pessoas e dinheiro, vc só esqueceu de citar aquelas que naum têm preço, q naum se fabricam por ae, são como tesouro, que qdo encontrado fazem a felicidade de quem encontrou, pessoas como vc, mais que especiais, raríssimas, por isso tão difíceis de se encontrar. Eu sou a sortuda que encontrou o tesouro da sua amizade!!! Te amo sem noção!!! Hehe
Bjo